Conheça Sandra Mara...


Sou Sandra Mara, 36 anos, tenho paralisia cerebral devido a demora do parto, que provocou a falta de oxigênio no cérebro. Mas graças a Deus e da N.S Aparecida que estão sempre do meu lado, tenho forças para vencer as dificuldades que a vida nos proporciona.

Hoje, sou repórter e colunista na revista Bem vindo A.Nó.S. da Associação Nosso Sonho, modelo, palestrante. 

Meu pai (Marcos) já é falecido por causa do alcoolismo, por conta disso ele não era muito participativo na minha vida, ele me amou de seu jeito. Hoje tenho certeza que ele está feliz com a minha garra. 

Moro com minha mãe (Vera). Que iniciou meu tratamento na AACD quando tinha um ano onde pude permanecer só até cinco anos, depois disso me desligaram pois eles não trabalhavam com crianças que tinha paralisia cerebral. 

Durante uma conversa com minha mãe eles falaram que eu seria como um bolo que falta o fermento, ou seja, eu ia ficar só na cama vegetando. Mas minha mãe não deixou isso acontecer e correu muito comigo. Eu era igual uma boneca de pano, toda mole, só que eu era inteligente. 

Com os tratamentos aos poucos fui melhorando, com quatro anos pedi para ir ao banheiro, comecei a falar algumas palavras e ficar firme com o corpo. Quando eu tinha seis anos, entrei numa escola especial chamada Quero-Quero, que atendia apenas pessoas com paralisia cerebral, que funcionava como clínica e escola.

 Lá dentro as nossas vidas deu outro rumo, minha mãe aprendeu realmente olhar para o futuro, eles mostraram que eu era capaz de ter uma vida igual as outras crianças, mas com o meu tempo. Fui alfabetizada com sete anos, para que eu conseguisse escrever sem a minha mão eles fizeram uma ponteira de cabeça a qual me permitiu a digitar na máquina de escrever, minha voz e postura melhoravam cada vez mais com as terapias. Permaneci nesta unidade até 21 anos.

Decidi sair da escola especial, porque quis frequentar uma escola regular para obter um diploma para ingressar em uma faculdade de jornalismo. Nessa etapa da vida precisei encarar a sociedade e a minha mãe, pois estava com receio que saísse da escola especial para uma regular. Não foi fácil para convencê-la que eu estava preparada, quando ela aceitou, foi a hora da diretora me dá um chá de cadeira, ela ficou seis messes para fazer a minha matrícula.

Fiz supletivo da quarta a oitava série, minha mãe ia comigo para me auxiliar, por essa razão ela também se matriculou. A escola não tinha experiência e nem preparo para dar aula para mim, era eu que entrei em um acordo com os professores para ver qual era a melhor forma de estudar. Único jeito que encontrei foi levar para casa caderno dos colegas e copiar e fazer tudo no computador e no outro dia mostrava as lições e os trabalhos, infelizmente, até prova fazia em casa, e quando era prova em grupo fazia lá com a turma.

 Com a companhia da minha mãe me facilitou muito para fazer amizades porque quando alguém não me entendia ela traduzia, me levava ao banheiro e me alimentava. Mas não demorou muito para fazer amizades, eu até esquecia que eu estava com minha mãe. já no colegial foi mais complicado eu ia sozinha, estudava no período regular com os adolescentes de manhã. Na primeira semana fui com uma amiga para ela explicar para os alunos que eu ia sozinha e precisaria de ajuda. Com os professores não tive problema porque minha ex-professora trabalhava lá e ela conversava com eles, mas com os alunos, eu posso dizer que sofri muito, tive vontade de largar tudo só não fiz isso por causa do meu sonho e da minha mãe.

Demorei seis meses para fazer amizades ouvia vários comentários que não gosto de lembrar. Graças a Deus, quando consegui fazer amizades tudo mudou, era uma guerra na hora de fazer trabalho em grupo porque todos queria fazer comigo. A forma de estudar era o mesmo do supletivo eu copiava todas as matérias em casa e no outro dia entregava, também não tinha computador na sala para facilitar a minha vida. Quando precisava ir ao banheiro ouvia vários argumentos ruins.

Tirando as dificuldades que enfrentei durante esses anos, eu amei estudar, era boa aluna, na formatura recebi uma linda homenagem. Na faculdade foi outra barra, mas desta vez eu não aguentei a pressão e fiz apenas um ano e meio. Também ia sozinha, tive apoio dos alunos, nunca usei o banheiro porque não tinha alguém para me levar, demorei um ano para ter um computador na classe só cosegui porque os alunos fizeram um abaixo assinado. Uma segurança começou me ajudar eu fiquei muito feliz, mas ela foi proibida, pois segundo eles ela não era paga para ser minha babá. A faculdade foi a Unip.

Como eu não sei ficar parada quando sai da faculdade fiz uma curso de Photoshop e comecei a trabalhar em casa com serviço gráfico, durante um ano e meio, até fiz convite de casamento, aniversário, cartão de visita, lembrancinha. Depois desse período pela primeira vez eu tive uma crise de depressão, porque estava vendo que não era essa profissão que queria, a minha profissão é jornalismo, estava me sentindo uma derrotada por causa que eu não lutei muito para terminar a faculdade.

Na crise, eu lembrei da Suely que trabalhou na escola do Quero-Quero, e agora está com a ONG Associação Nosso Sonho. Um dia fui lá conhecer e Graças a N.S Aparecida, ela apresentou o projeto da revista e me chamou para ser voluntária, fiquei só três messes como voluntária e foi contratada. A revista é feita por repórteres com paralisia cerebral, e são contratados pelas duas empresas Tecnisa e Havanna, sou funcionária da Havanna, há dois anos e meio.

A partir desta conquista estou realizando vários outros sonhos, pessoal e profissional como: Participei da Coletiva de Imprensa do Mauricio de Sousa, eu perdi o medo de falar durante as entrevistas por causa da minha voz, cubro eventos, desfilei e desfilo que era um sonho desde de pequena, obtive meu próprio cartão de crédito e até meu coração está muito ocupado.

 Me considero uma moça vitoriosa, porque com as dificuldades que tenho, passo por cada desafio diariamente, sou feliz, amo o desafio, correr risco, que encontro no meu caminho. Se cair seguro na mão da N.S me levanto e agradeço.

Se quiserem conhecer um pouco mais de meu trabalho, assista o vídeo:
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