10 coisas erradas que as pessoas pensam sobre os surdos.





São muitos os mal-entendidos a respeito dos assuntos surdez e surdos. Muitos!! Poderia escrever uma lista com uns cem, mas achei mais prático me concentrar nos 10 mais recorrentes.

1. Todo surdo usa língua de sinais
O erro mais básico de todos – na verdade esse é um erro universal, pois no mundo inteiro as pessoas que não tem contato com alguém que não ouve pensam isso. Existem diferentes graus e tipos de surdez, e em 99% dos casos de usuários de Libras são pessoas que já nasceram com surdez profunda e não fizeram uso da tecnologia para voltar a ouvir e não foram oralizadas. Estes são os que chamamos de surdos sinalizados. Os outros, que chamamos que surdos oralizados, são pessoas que mesmo com surdez ainda ouvem (através da tecnologia ou de seu resíduo auditivo) ou que não ouvem mas falam como uma pessoa que ouve e não têm necessidade nenhuma de língua de sinais – mas há os oralizados que por desejo pessoal querem aprendê-la, esses, chamamos de surdos bilíngues. Mais fácil desenhar? Rsrsrs! Quando você ficar confuso, pense sempre em tecnologia: hoje em dia, tudo o que ainda não é curável já é pelo menos contornável, como a surdez. Por isso é impossível existir uma padronização.

2. Basta berrar para conversar com um surdo
É muito comum que um ouvinte, ao ser avisado de que certa pessoa é surda, comece a se comunicar com ela aos berros, como se berrar fosse resolver a comunicação. Não resolve. O melhor jeito de nos ajudar a lhe entender é articulando bem os lábios e não falando igual a locutor de rádio. Quando você quer chamar a atenção de alguém que não ouve ou ouve mal, apareça no campo de visão da pessoa ou então cutuque-a. Mas não berre, por favor. Além de ser horrível e inútil, para nós, é humilhante. Detestamos!
3. Surdo que usa aparelho auditivo ou implante coclear está curado
A surdez não é curável ainda. Mas os ouvintes costumam relacionar aparelhos auditivos e implantes cocleares à óculos e essa infelizmente é uma comparação ruim. Ao colocar óculos a pessoa resolve de modo automático seu problema de visão. Ao colocar um AASI ou IC, é necessário um processo longo de adaptação – e eles não restauram a nossa audição de modo perfeito e nem nos fazem ouvir e entender tudo. A tecnologia nos ajuda, mas não cura e nem resolve 100% o nosso problema. Ah, saiba que não há nada mais detestável do que dizer a um surdo quando ele não ouve/entende algo: “Ué, mas você não está de aparelho?” Fica a dica!

4. Surdez é coisa de velho
A surdez era coisa de velho, não é mais. O mundo mudou, e com o advento dos smartphones e MP3, as pessoas de todas as faixas etárias ficaram viciadas em fones de ouvido. Some-se a isso a poluição sonora das cidades e todos os ruídos aos quais somos submetidos o dia inteiro. A audição é muito sensível, e as células ciliadas não são capazes de se regenerar. Por isso, a surdez está se tornando algo tão comum e frequente quanto os problemas de visão. As pessoas estão perdendo audição muito mais jovens! E nossos amados velhinhos hoje têm a oportunidade de ser ulta-tecnológicos com aparelhos auditivos super modernos e com conexão sem fio. Números: dos 36 mihões de americanos com algum grau de surdez, apenas 30% possui mais de 65 anos.

5. Surdos fazem parte da cultura surda, só andam e se relacionam com outros surdos
Bobagem das grandes. Há surdos que se definem através da surdez, sim. Mas a grande maioria dos surdos no mundo inteiro usa a tecnologia para voltar a ouvir da maneira que for possível, e em função disso não se vêem com barreiras difíceis de comunicação. Portanto, seus amigos e parceiros serão quem eles bem entenderem.

6. Existem “Surdos” e “surdos”
Típica papagaiada pseudo-acadêmica desnecessária que só serve para confundir as pessoas que não manjam do assunto. É o mesmo que dizer que existem “Gordos” e “gordos”, “Negros” e “negros”, “Cegos” e “cegos” e por aí vai. Uma letra maiúscula não quer dizer nada, trata-se apenas de uma tentativa de fazer com que os ouvintes acreditem naquele papo antigo e desatualizado que prega que a surdez é uma bênção e todo surdo que se preze deve honrá-la e seguir a cartilha pré-estabelecida da surdez. Na minha opinião, isso tem uma pegada evangelizadora horrorosa. Ao aprender mais sobre surdez, os ouvintes descobrem que essas besteiras só ocorrem nesta deficiência – você jamais verá um paraplégico furioso com outro paraplégico só porque ele usa cadeira de rodas, e jamais veria alguém defendendo que um bebezinho cego continue cego em prol do braile. Já na surdez…

7. Surdos estudam em escola especial
Os que precisam, sentem necessidade e preferem estudar em escola especial, assim o farão. Os que não sentem vontade e não têm necessidade estudam em escola regular. As tecnologias de acessibilidade para surdos usuários de aparelhos auditivos e implantes hoje em sala de aula são sensacionais.

8. Acessibilidade para surdos é intérprete de língua de sinais
Se eu ganhasse um real cada vez que escuto isso estaria escrevendo posts em Paris. A língua de sinais só ajuda aquelas pessoas que se comunicam através dela e a conhecem. E o resto dos surdos? Legendas são a nossa salvação. De resto, tudo é contornável com a tecnologia. Não fala no telefone? Então é só mandar um SMS ou WhatsApp. Não pode ligar para o 0800? Então entra no chat da marca/loja/serviço.

9. Todo surdo sabe ler lábios
Infelizmente não é assim, já que muitas pessoas perdem audição depois de adultas – e como nunca precisaram aprender a ler lábios, não sabem fazê-lo. E não pensem que é a coisa mais fácil do mundo, pois não é. Aliás, você já parou pra pensar em como é olhar para as bocas das pessoas e sem som conseguir ‘ouvir’ o que elas estão dizendo? Comparo a leitura labial sempre a um super poder!!

10. Ao conversar com um surdo, se ele não entender algo, é só dizer “Esquece, não é nada”
Não faça isso nunca. Uma pessoa surda sempre precisará fazer um esforço 20x maior que uma pessoa ouvinte para acompanhar e compreender uma conversa, um grupo de pessoas falando ou qualquer fala humana. Portanto, quando não entendemos algo que foi dito nossa vontade é apenas uma: que o interlocutor repita para que a conversa faça sentido para nós. Receber um ‘esquece, não é nada’ é uma frustração enorme: parece que não somos dignos de saber o que o outro disse ou que ele não dá a mínima para o fato de não termos entendido.

Fonte: Crônicas da Surdez
Tecnologia do Blogger.