Entrevistas
Conheça Fatine...
Quando
nasci em 84 não havia muitos estudos sobre a genética, assim as possibilidades
de realizar um diagnostico errado eram muitas. O problema é que muitas vidas foram
prejudicadas com esses erros, inclusive a minha.
Iniciei
a “caminhada” com dificuldade, caía muito e não conseguia elaborar muitos
passos. Minha avó, depois de observar essas quedas, alertou minha família
orientando-a a buscar um médico. Assim foi feito e recebi o diagnóstico de
“distrofia muscular de Duchenne”.
Andei
de aparelhos durante um tempo, quer dizer, me mantinha em pé por causa deles, mas
não conseguia dar muitos passos devido às fortes dores que sentia. Por esse
motivo, passei para a cadeira de rodas.
A
maior parte minha infância passei na casa de minha tia, onde aprendi que
deveria esforçar-me para conseguir alcançar os objetivos da minha vida. Ela,
diferente de meus outros parentes, nunca se dirigiu a mim com pena ou via-me
menos capaz do que meus primos. Ao contrário, tratava-nos com igualdade tanto
para as coisas boas quanto para as negativas.
Em
casa, com meus pais, passava a maior parte do tempo lendo e desenhando em meu
quarto. Brincava com algumas vizinhas às vezes, mas por fazermos muita bagunça
minha mãe não gostava que elas fossem em nossa casa. Assim, meio sem saber,
adquiri um gosto pelo conhecimento e a necessidade de aprendizado tornou-se uma
obsessão para mim.
Aos
12 anos, esse prazer trouxe uma grande tristeza para mim. Ao pesquisar sobre
minha doença (lembra-se do diagnostico que recebi?) descobri que a morte era
eminente na adolescência. Aquilo foi terrível, vi meus sonhos irem por água
abaixo. Meu desespero foi tanto que passei a desenvolver uma forte depressão,
chorava constantemente, não conseguia ir bem na escola e com o tempo minha
auto-imagem se distorcia em algo tão feio e desprezível que não ousava me olhar
no espelho nua. Foram anos difíceis que começaram seu fim em 2004 quando fiz um
exame de DNA no Sarah Kubitscheck, descobrindo meu diagnóstico verdadeiro: distrofia muscular progressiva forma
cinturas.
Nesse
momento a vida tornou-se um mar de possibilidades, busquei alcançar tudo aquilo
que me foi privado, todos os sonhos abandonados pelo medo da morte, os amores
não vividos pelo receio da recusa e, principalmente, a aprender a valorizar
pequenos momentos de felicidade.
Conquistei
meu primeiro emprego, onde, trabalhando com outras pessoas com deficiência,
pude ver que meus problemas não eram tão assustadores assim. Vivi meu primeiro
beijo aos 21 anos e logo após vieram os relacionamentos.
Entrei
para faculdade e estudei um ano, precisando abandonar o curso depois por falta
de verba para continuar. Entrei em ostracismo novamente. Era como se não
pudesse continuar, como se fosse aquela fracassada de anos atrás.
Porém,
o desejo pelo conhecimento e a força que me move chamada fé fez-me continuar e
conseguir uma bolsa pelo PROUNI. Graças a ela, formei e hoje trabalho na área.
Ainda
tenho muitos sonhos para conquistar, amores para viver e pequenos momentos a
apreciar, entretanto, tenho a certeza de que SOU CAPAZ
de fazer aquilo que tiver vontade, bastando, para tanto, eu acreditar e me
esforçar.
Facebook: https://www.facebook.com/fatine.oliveira
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