E se você caminhasse...

 
 Sou cadeirante há uns vinte anos, andei pouco usando aqueles aparelhos, porém não tenho tantas lembranças dessa época. Recordo da primeira cadeira que tive: era imensa, verde e de rodas duras. Me sentia minúscula nela e por anos, ainda que crescesse, continuei me sentindo assim.
   Colegas correndo e amigas tomando forma. No canto, vendo tudo comecei a imaginar como seria se eu andasse. Será que conseguiria subir aquela árvore? Ou fazer aquele gol que meu colega perdeu? Chamaria atenção daquele grupo de rapazes ali? Dançaria tão bem quanto aquelas meninas? Ou seria uma chata de galocha?

   Claro, no imaginário a maioria das coisas davam certo pra mim. Era minha imaginação, afinal. Vivia como aquele filme “AVATAR”: dividida com a cabeça no lindo mundo das minhas ideias e o corpo preso na cadeira. Meu “avatar” era linda, interessante, dançava super bem, era desejada e subia tudo quanto era árvore. Uma super garota, cheia de amigos e popular. Tudo bem diferente daquilo vivido diariamente.

   Quantos de vocês já pensaram assim? Quantas vezes por dia? Por ano? Se não toda hora, algum momento da vida pensou. E como se sentiu quando a realidade bateu a porta e todo aquele lindo cenário se foi? Dói né? Infelizmente fica o gosto ruim e os dias piores. Porquê fazer isso? Pra quê?

   A verdade é se você ou eu andássemos seríamos outra pessoa. Teríamos outras experiências de vida, aprenderíamos e daríamos valor a coisas totalmente diferentes das atuais. Não se engane em pensar que seria melhor. Talvez passaria por situações bem piores, ou tornaria alguém incapaz de entender o outro.

   Esse vídeo demonstra perfeitamente essa diferença:  


   Desejar ser alguém que anda é desconsiderar sua história e negar a si é a pior forma de encarar sua vida. Lembram-se do primeiro amor? Como viver momentos felizes se eles só existirem nas ideias? Como se entregar ao amor, se considerar julgando impossível às suas rodas? Como terá amigos se viver confinado, pensando em formas de se divertir somente com suas pernas? Seja apenas você, troque as pernas por asas e voe.

   Use sua imaginação para sonhar novos desafios de vida: faculdade, trabalho, cursos, amigos, namoros (e porque não, pegações? rs), casa própria... Seja o céu o limite dos seus desejos e deixe os pés flutuarem, meus amigos. Façamos um mundo onde ser diferente seja comum, ao ponto de não precisarmos viver no “fantástico mundo do SE”.

Faty Oliveira
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