Fernando Fernandes (cadeirante) é impedido de viajar pela TAM



Ainda bastante indignado com o ocorrido na noite da última sexta-feira, quando foi impedido de embarcar com sua cadeira de rodas num voo da TAM, no aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro, Fernando Fernandes está decidido a procurar seus direitos e processar a companhia aérea pelo descaso.

"Se eu me calar agora, vou calar um mundo de gente que passa pela mesma situação e que não tem a mesma visibilidade e a força que eu tenho. Eu vou lutar pelos meus, por quem precisa e não é ouvido, não é respeitado. Se não me respeitam, vão ter que me respeitar pela lei. Vou atrás dos meus direitos", afirma o ex-BBB, em conversa com a Retratos da Vida na tarde deste sábado.

Segundo o assessor de imprensa do atleta paralímpico de canoagem, Denis Borges, que estava com ele no momento do incidente, o ex-BBB já está tomando as devidas providências sobre o ocorrido.

“Pode ter certeza que a gente está vendo tudo o que pode ser feito. Se eles cometeram algum crime nessa história, se infringiram alguma lei, que para nós (eu e o Fernando) está bem claro que sim, é justo que eles paguem por isso. Infelizmente, essa é a única forma de se resolver alguma coisa. Não adianta você só falar. É um absurdo o que as companhias fazem com as pessoas com deficiência e isso tem que acabar”, disse Denis.

Testemunha dos fatos, o assessor de imprensa de Fernando relata que ouviu de um funcionário da companhia aérea que a empresa não poderia carregar a cadeira de rodas do ex-BBB até o avião.

“Íamos viajar naquele voo. Só que aquele avião estava no remoto. Eles não quiseram deixar o Fernando subir porque a TAM estava sem o ambulift (elevador de embarque e desembarque para deficientes), que é obrigado a ter para subir a cadeira de rodas. E eles também receberam uma ordem lá da TAM, segundo um funcionário me falou lá na hora, que eles não poderiam carregar o Fernando na cadeira. Eles queriam que a gente fosse num outro voo que sairia 40 minutos depois. É um absurdo, porque é obrigado a ter o ambulift nas companhias aéreas. E você está perdendo tempo, está perdendo o seu direito de ir e vir. E se aquele fosse o último voo, teríamos que dormir no Rio?”, questiona.


Descaso é recorrente
Segundo o assessor de Fernando, essa não é a primeira vez que o atleta passa por um constrangimento num aeroporto.

“Já aconteceu um outro episódio este ano, quando chegamos no aeroporto internacional do Galeão (no Rio de Janeiro) e vimos que não tinha elevador. O Fernando teve que sair do aeroporto por um outro caminho. No dia, um funcionário até falou que tinha um elevador ali, mas eles tiraram. Viajamos toda semana praticamente, e sempre acontece alguma coisa ou algum constrangimento. Ontem mesmo, quando a gente pegou o outro voo, o comandante 'deu uma dura' no cara da TAM, porque ele subiu a cadeira, mas não levou a cadeira até dentro do avião. Eu já estava de saco cheio e fui lá, peguei a cadeira do corredor e levei ela até dentro do avião. Não adianta o cara levar a cadeia até 15 metros de distância do avião, porque o cadeirante não anda 15 metros. E se o cadeirante estivesse sozinho? E olha que ele tem direito de viajar só...”.

Fernando foi ainda mais crítico em seus questionamentos, comparando o tratamento que um cadeirante costuma ter no Brasil com o de países da Europa.

"A gente passa por constrangimento o tempo inteiro. Como que uma cidade que vai ser sede de uma olimpíada e paraolimpíada não consegue receber um cadeirante? Estamos falando de uma cidade mais importante do país em relação a turismo. Como queremos receber os outros se não sabemos lidar com quem é de dentro?. É um absurdo eles não terem material, um ambulift ou uma cadeira automática. E também, por regras novas da ANAC, ninguém pode te ajudar. É uma falta de respeito que acontece o tempo inteiro. Mas dessa vez foi uma forma absurda! Uma pessoa chegar para mim e dizer que eu não poderia pegar o voo que eu paguei e decidi viajar? Eles decidem a sua vida da forma como eles bem querem!!!", reclama Fernando.

Assessor afirma que companhia não fez pedido de desculpas

Denis afirma ainda que nenhum pedido de desculpas foi feito por parte da companhia aérea. Em nota, a TAM lamentou o episódio e disse que entrará em contato com o cliente para avaliar o ocorrido. A empresa ressaltou ainda que segue rigorosamente as normas estabelecidas pela resolução 280 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que dispõe sobre os procedimentos relativos à acessibilidade de passageiros com necessidade de assistência especial.

“Li depois que eles lamentaram. Mas a TAM não pediu desculpa nenhuma. O que eles fizeram foi um absurdo. Isso que aconteceu com o Fernando acontece todos os dias com outras pessoas deficientes. Se ele se calar, se deixar isso passar, isso vai continuar acontecendo numa cidade que vai receber a Paraolimpíadas e que realiza os Jogos Parapanamericanos”, relata o assessor de Fernando.

Após o transtorno, o ex-BBB seguiu para São Paulo, onde realiza neste sábado uma festa em comemoração a um ano do instituto que criou para crianças deficientes. Em meios aos festejos, Fernando afirma que segue indignado.

"É um absurdo. Isso é bizarro! Falta de educação, de respeito! Não existe um padrão para eles trabalharem aqui no Brasil. Não existe um trabalho como existe lá fora. Você vai na Europa e lá tem alguém pra te atender de acordo com as suas necessidade, não só de um cadeirante, como de um obeso, de um idoso... Eu não tenho frescura nenhuma. Se tiver que subir no braço a escada de um avião, eu já tenho um esquema para isso. Subo com duas pessoas me ajudando, aí vou escalando no braço. Mas nem isso eles fizeram", desabafa o atleta.

Ex-BBB faz desabafo

Na noite de sexta-feira, ao ser impedido de embarcar no voo da TAM com direção a São Paulo, Fernando Fernandes fez um desabafo em seu perfil no Facebook relatando o descaso.

"Indignação!!! Depois de passar vários minutos na porta da aeronave e ser impedido de subir pois a TAM não possui ambulift e nenhum outro sistema para que possa entrar na mesma; e os funcionários não podem auxiliar pois essas são as novas regras na ANAC. Para não causar transtorno aos outros passageiros decidi então que perderia esse voo e com muito constrangimento peguei o próximo. Quero agradecer a todos pelas palavras e opiniões e tenha certeza que irei atrás dos meus direitos pois se eu me calar nesse momento estarei tirando voz de uma grande parcela da sociedade que às vezes não tem a força necessária para lutar contra esses "ambiciosos canibais" que colocam os valores financeiros à frente do respeito ao ser humano!!!', escreveu, recebendo o apoio dos seguidores, amigos e fãs.

Posicionamento da TAM

Por meio de nota, a TAM Linhas Aéreas esclarece que "lamenta o episódio e informa que entrará em contato com o cliente para avaliar o ocorrido. A empresa ressalta que segue rigorosamente as normas estabelecidas pela resolução 280 da ANAC que dispõe sobre os procedimentos relativos à acessibilidade de passageiros com necessidade de assistência especial".


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