Faty Oliveira
"Cadeirantes e o poder ilimitado de Deus"
Em uma sala de espera qualquer, uma senhora me observa intrigada. Mesmo percebendo, mantenho-me atenta ao ritmo alucinante dos meus pensamentos desconexos, afinal alguém tem que colocar ordem nessa bagunça chamada "mente". Ao seu lado estava meu pai com os olhos voltados ao jornal do dia, atualizando-se sobre as últimas do seu amado galão da massa. Sorridente, ela o aborda perguntando se sou sua filha e admirada com minha postura que segundo ela "parece que já andou na vida".
Após conversar com ele, a essa altura já tínhamos trocado olhares e sorrisos, eis que ela me chama com a máxima "você sabia que Deus pode te curar? Pois para ele nada é impossível".
Acredito em Deus, sou cristã, não pertenço a nenhuma igreja ou corrente espiritual, mas honestamente acho esse tipo de abordagem pra lá de abusiva. Entendo as razões da senhorinha e a respondi educadamente, porém fiquei cá com minhas rodas tentando encontrar as razões daquela fala.
Será que ela (e tantos outros que fazem o mesmo) acham que cadeirantes são pobres seres esquecidos do poder de Deus? A gente deixa de acreditar no Senhor e "ploft" vai pra cadeira amargar sua pouca fé. Se for ateu então vai ficar todo desengonçado até aparecer alguém santo e benevolente pra lembrar-te que há esperança ao que crê.
Seria muito mais interessante conversar comigo pra conhecer minha história de vida, entender o que penso e se, somente se, estiver precisando de um apoio espiritual aí sim me falar do que acredita e tal. É difícil acreditar, contudo liberdade de crença não é privilégio dos "sadios".
Nem todo cadeirante é infeliz. Tem muita gente por aí que consegue lidar com suas agruras numa boa, sem reservas e sem Deus. Aliás, se Ele concedeu o livre arbítrio porquê não aceitar isso?
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