Entrevistas
Conheça Silvio rogerio dos santos ...
Vinte e cinco anos atrás sofri um acidente e fiquei paraplégico. No inicio as coisas eram muito difíceis, as dificuldades eram infinitas, mas sempre agradeci a Deus por estar vivo.
Tudo mudou, nessa nova vida tive que aprender a viver dia a dia enfrentado obstáculos, preconceito e afastamento de pessoas que você tinha como amigo. O tempo foi passando e novas dificuldades apareciam em meu caminho, mas Deus sempre me dando forças para seguir adiante.
Fiquei sabendo da AACD, e fiz de tudo para conseguir fazer uma triagem que só com muita teimosia foi que consegui. Na AACD tive a certeza que não iria andar mesmo, apesar disso, não fiquei triste até porque inúmeras pessoas passavam por dificuldade infelizmente muito maior do que a minha e de certa forma isso me serviu de exemplo pra não desistir.
Na AACD aprendi a nadar, pratiquei caiaque, aprendi a me transferir e muitas outras coisas, ainda bem que não desisti!
O tempo não para e nessa rodada pela vida me transformei forte, mas sempre com ajuda de Deus! Comecei a fazer artesanato, porque eu parei de andar mas as contas nunca param de chegar e as dificuldades também. Tive muita dificuldade conseguir uma cadeira de rodas, pedi para o prefeito, vereadores e nunca ganhei. Cheguei em um estado que precisei amarrar a minha cadeira com arame e solda, enfim... conseguir uma cadeira de rodas hoje em dia, é infinitamente difícil.
Mas a vida continuava e nessa continuação conheci varias pessoas com deficiência e infelizmente enfrentando mais dificuldades do que as minhas. Ai, comecei a pensar mais neles do que em mim mesmo.
Realmente eu também tinha alguns obstáculos, mas eu tinha minha mãe que até hoje nunca deixou de segurar minha mãe e orar por mim. E ao invés de conseguir uma cadeira para mim, fui em busca de cadeiras para outras pessoas que estavam precisando mais do que eu.
Não tinha mais para quem pedir, as pessoas ignoravam nossas dificuldades. Mas, um belo dia, fui fazer uma visita para um amigo que fazia tempo que não o via, Miguel Angelo é nome dele, ao entrar em sua casa me deparei com um quadro entalhado em madeira, fiquei encantado e perguntei quem tinha feito, e ele me disse que tinha sido feito por ele mesmo e que se eu quisesse, ele me ensinava. Rapidamente aceitei e depois que aprendi, comecei a produzir para fazer rifas, ainda com o objetivo de comprar as cadeira de rodas. Com isso consegui várias cadeiras para doar, mas não tanto quanto eu esperava.
Sem desanimar, continuei fazendo rifas e no fui aniversário de minha sobrinha Priscila, levei o meu álbum com meus entalhes e mais uma nova rifa para comprar uma cadeira. Nesse dia ofereci a rifa para uma pessoa e essa pessoa fazia parte de uma associação de pessoas com deficiência da minha cidade, Lorena-SP. Essa mesma pessoa falou um pouco sobre os trabalhos deles e me convidou para ir fazer fisioterapia com eles, eu agradeci e respondi que não, mas minha vontade era ser ser voluntario nesta associação ensinando entalhes para as pessoas com deficiência.
E assim foi, era uma felicidade só poder ensinar e estar ao mesmo tempo ao lado de pessoas com deficiência, conhecer cada um e saber das suas dificuldades, poder fazer algo por eles. Mesmo aqueles que não conseguiam fazer aula, ficava por perto de mim e riamos juntos. Enfim, eramos todos felizes.
Comei a pensar mais na associação, uma desejo de querer fazer algo mais surgiu. Como não sabia o que fazer, comecei a limpar a associação mesmo em uma cadeira de rodas, capinava e levava amigos para cortar a grama as vezes. Estando sempre na associação, percebi que as pessoas que eram responsáveis por ela, não respeitavam as pessoas com deficiência e com o tempo percebi que a associação não era das pessoas com deficiência, e sim, da própria diretoria. Foi ai que comecei a ficar triste, assim como muitas outras pessoas ficaram e acabaram se afastando dessa associação. Então, tive a ideia de ensinar entalhes a pessoas com deficiência em minha casa mesmo.
Não consegui desistir dessa luta, foi quando Deus me mostro uma escola que estava abandonada a 7 anos e la moravam mais de 50 drogados, ninguém tirava eles de lá. Foi ai que convidei dois deficientes e entrei lá, junto aos drogados com uma enxadinha na mão pra ajeitar aquele lugar. Um dos deficientes foi poucas vezes e não voltou mais, o outro mais na frente também desistiu, ficando apenas Jesus, eu e a minha enxada.
Os drogados roubaram tudo de lá, vasos sanitários, portas, todos os fios, janelas, canos. Colocaram fogo em todas as salas, e quando estavam tirando o telhado, eu não permiti, fiquei junto com os drogados por 4 meses sem parar de limpar. Foi quando pedi licença para eles, dizendo que ia fazer algo muito importante alí, todos foram embora na paz e eu fiquei sozinho com Jesus, vendo aquele milagre.
Com dividas de água e luz , um vizinho e minha mãe de 84 anos se ofereceram para serem voluntários e estão nessa comigo até hoje. Continuo na luta, assumi as dividas em meu nome, no momento ensino crianças a fazer entalhes sem ajuda da sociedade e tão pouco dos políticos da cidade. Fiz isso tudo para incluir pessoas com deficiência e continuo lutando até o ultimo dia da minha vida.
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