Curiosidades
"Não nascemos com vocação para cuidar, somos ensinadas a isso"
Vitória Bernardes, 31 anos. Adquiri deficiência, tetraplegia, há 14 anos. Há 03 anos tornei-me mãe da Lara e há 05 anos sou companheira do Márcio.
O QUE ELA ESCUTA
Que sou bonita demais para estar na cadeira de rodas. Que as pessoas se esquecem, ao trabalhar comigo, que eu tenho uma deficiência. Que foi bom eu ter uma filha “mulher”, pois assim ela poderá cuidar de mim. Escuto o quanto meu marido é especial por estar com alguém como eu. Ao estar em lugares públicos, escuto que eles não são acessíveis por terem sido feitos para pessoas normais. Enfim, escuto diariamente frases que compravam quanto o machismo e o capacitismo estão presentes em nossa cultura.
O QUE ELA ESCUTA
Que sou bonita demais para estar na cadeira de rodas. Que as pessoas se esquecem, ao trabalhar comigo, que eu tenho uma deficiência. Que foi bom eu ter uma filha “mulher”, pois assim ela poderá cuidar de mim. Escuto o quanto meu marido é especial por estar com alguém como eu. Ao estar em lugares públicos, escuto que eles não são acessíveis por terem sido feitos para pessoas normais. Enfim, escuto diariamente frases que compravam quanto o machismo e o capacitismo estão presentes em nossa cultura.
Escuto minha filha fazendo perguntas para entender o mundo... e vejo ela se encantando com as descobertas. Escuto ela me chamar de “mamãe” e sinto meu coração se encher de cor. Vejo a Lara compreender minha deficiência com a naturalidade necessária a todos. Ser o abraço que ela busca quando sente medo ou se machuca me mostra, diariamente, que maternar é possível independente da deficiência.
O QUE ELA PENSA E SENTE
Sinto que há um longo caminho para nós, mulheres, termos nossa identidade reconhecida para além dos estereótipos. Sinto que minha existência, enquanto pessoa com deficiência, ainda não é reconhecida. Sinto que a Lara me despertou a uma imensidão de sentimentos e me deu forças para encarar de cabeça erguida tudo o que me fere.
Sinto que voltar a andar não seria a solução para os meus problemas, pois eles não se restringem a mim, mas sim a uma sociedade excludente, que castra quem se opões aos seus padrões e contesta seus valores. Sinto que sou mais responsável. Continuo defendendo o que acredito, mas não coloco mais minha integridade física em risco, pois tem uma pessoinha que precisa de mim.
O QUE ELA DIZ E FAZ
Digo que a maternidade é lindamente difícil. Não nascemos com vocação para cuidar, somos ensinadas a isso. Digo que maternar é escolha e ninguém tem o direito de pressionar uma mulher a exercê-la. Digo que a Lara é uma escolha e não uma obrigação.
Sou psicóloga e atuo na área da inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Como profissional, lidero o programa de inclusão do Grupo RBS e atuo na Consultoria Desenvolver. Faço parte do Grupo Inclusivass, grupo de mulheres que pauta o recorte de gênero na deficiência, da Rede Desarma Brasil e do Grupo de Trabalho do Ministério da Justiça sobre Controle de Armas.Faço o controle financeiro da casa e coordeno nossa rotina.
Digo que minha filha é prioridade, mas que o trabalho me realiza. Nem sempre é fácil conciliar esses dois lados. Amo estar com minha filha e orientá-la. Digo que meu maior compromisso com a Lara é ensiná-la a amar.
O QUE ELA VÊ
Uma cumplicidade única com a Lara, que me faz crescer enquanto pessoa e me despertar como mulher. Vejo gurias na linha de frente em grandes e embasados protestos, revindicando seus direitos e fazendo valê-los. Vejo pessoas exigindo respeito a sua diversidade e batalhando pelo seu direito de existir. Me encanto e faço parte das pessoas que gritam em alto e bom som que são elas mesmas as protagonistas de suas vidas. Vejo esperança, daquelas que se corre atrás, para que um dia vivamos em uma sociedade em que equidade não seja apenas utopia. Minha filha faz com que eu batalhe e continue acreditando em tudo isso todos os dias.
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