A vida depois de… Ficar paraplégico ao dar um passo em falso



Após um pequeno descuido, Tavinho, como é carinhosamente conhecido, sofreu uma queda do teto ao chão. Calçando um tênis, ele subiu no telhado com a ajuda de uma escada. Depois de pisar em falso, acabou quebrando uma das telhas, caiu de uma altura de 3m e ficou paraplégico. “Gritei de dor e percebi que já não sentia mais as pernas”, lembrou.

Um ano antes da queda, o publicitário e bacharel em direito atuou como Secretário de Turismo da gestão de Agnelo Queiroz (PT) no GDF. Ocupou a posição entre 2011 e 2014. No cargo, ele lidou com situações profissionais difíceis de solucionar. A realização de uma Copa do Mundo, até então, estava no topo de sua lista de desafios. Após o acidente, ele redefiniu o conceito da palavra “dificuldade”.

Hoje, nada o deixa mais feliz que perceber a evolução diária em sua recuperação. Pequenas vitórias são motivos de grande alegria. Durante dois meses, ele contou com ajuda de um cuidador para fazer tarefas ordinárias, como tomar um banho.

Essas conquistas simples o encorajaram a testar seus limites.“Este ano, consegui fazer um mergulho em Cozumel (México). Quase chorei embaixo do mar. Um dia ainda vou tentar esquiar novamente”, projeta.

Não dá mesmo pra duvidar dos planos dele. Na cadeira de rodas, Tavinho já andou de barco, nadou em rio e viajou para acompanhar as Olimpíadas Rio 2016. Assistir aos Jogos Paralímpicos, contudo, não foi possível devido a uma cirurgia pela qual ele passou.
O esporte também tornou-se um aliado no tratamento. Ele pratica canoagem e desbrava as águas do Lago Paranoá duas vezes por semana. Um detalhe: o caiaque não é adaptado para usuários de cadeira de rodas, mas ele enfrenta o desafio.
Dirigir foi mais um obstáculo nesse processo de readaptação. Ele precisou se matricular em uma autoescola e aprendeu a conduzir um carro sem o movimento das pernas, em um veículo com câmbio automático. No lugar dos pedais, Tavinho com as mãos freia e acelera o automóvel por meio de uma alavanca. Tudo para poder ter autonomia, levar os filhos ao colégio, comprar os próprios remédios e ir a consultas.
Mariana, casada com Tavinho, admira a postura do marido, que não perdeu a alegria. “Ele é o mais otimista e sempre manteve o bom humor. Escolheu esse modelo da cadeira, mais leve, porque a gente sempre gostou de dançar e ele queria continuar dançando.”
Barreiras no caminho
Ao perder os movimentos das pernas, Tavinho, que já esteve no papel de gestor no DF, sentiu o peso de uma cidade mal planejada. Por falta de acessibilidade, para transitar nas comerciais do Plano Piloto e até mesmo na Rua das Farmácias, ele, muitas vezes, precisa se arriscar junto aos carros nas pistas.
A primeira visita a um shopping depois de deixar o hospital marcou Tavinho e família. Durante um passeio ao Gilberto Salomão, o publicitário se viu impedido de entrar em uma loja de departamentos por falta de passagem para a cadeira de rodas.
Ao se encontrar por acaso com o dono desse centro de compras, ele sugeriu a adaptação do local para maior acessibilidade. A resposta, segundo Tavinho, não foi gentil. O empresário o aconselhou a deixar o prédio, dar a volta no estacionamento e entrar pelo subsolo. “Ele ainda me disse que seria um ótimo exercício”, acrescentou o ex-secretário de turismo.
O caso virou ocorrência na 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul). Tavinho, no entanto, não prosseguiu com a denúncia. A intimação do empresário para prestar depoimento já satisfez o ex-secretário, que preferiu guardar suas energias para novas batalhas.
Desde o acidente, Tavinho se distanciou da atividade política. Em 2012, ele viveu momentos de turbulência em sua vida pública. Na época, ele integrava as bases do PSB, partido liderado no DF pelo então senador Rodrigo Rollemberg.
Quando Rollemberg deixou de apoiar a administração de Agnelo Queiroz, Tavinho preferiu sair do partido a abrir mão do cargo de secretário. A divergência gerou um mal estar naquele período, mas não abalou a amizade entre ele e o hoje governador, que lhe deu demonstrações de solidariedade após a queda.
Tavinho tem fé que a limitação física é passageira. Ele mantém-se forte na esperança de não mais precisar da cadeira de rodas. Nunca perguntou aos médicos se voltará a andar.
“Nenhum deles vai me dizer com certeza e não quero receber uma resposta que vai me jogar lá para baixo. Tenho certeza que vai acontecer. Eu faço a minha parte”, diz, com um sorriso tranquilo.
Fonte: Metrópole
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