DESABAFO DE UMA JOVEM CADEIRANTE - Ser deficiente é mais difícil para você, do que pra mim...

Escrito por Lilian Kaytt



Quando eu era menor, sempre me faziam a mesma pergunta: “você acha que um dia vai andar normalmente?...” E eu sempre respondia: “sim!...”. 


Porém, isso foi até eu me dar conta que esse desejo de eu andar normalmente lá no fundo não era meu, pois percebi que cadeirante é considerado fora do normal para as outras pessoas.

 Antigamente eu não me via diferente, sempre aceitava ser quem eu sou e aceitava o meu corpo exatamente como ele é e achava que todas as pessoas a minha volta faziam o mesmo... Até perceber que não era bem assim

Entretanto, todos nós, temos que passar por essa fase cheia de turbulência chamada adolescência, não é mesmo? Você já parou para pensar o que é ser um(a) adolescente cadeirante? Eu posso garantir para vocês que não é nenhum milagre transcendental ou divino de qualquer tipo. É, basicamente, a mesma coisa para todo mundo.

Contudo, a maior dificuldade não é a física, mas sim, a social. 

É perceber que apesar de eu me sentir como uma pessoa comum, na maioria das vezes, eu sinto como se as pessoas que não me conhecem e me tratam como algo menor do que eu realmente sou por causa da deficiência, ou ainda me enxergam como "super heroína" e da mesma forma me distancia do ser normal que eu sou. 

As pessoas que me veem e sempre me dizem frases tipo: “Como você é inteligente!” ou “nossa você é bonita!” e eu não consigo deixar de completar mentalmente: “...para uma cadeirante.” Como se, qualquer uma dessas qualidades fosse algum tipo de milagre! 

Existe um estigma muito forte em relação aos PC’s (pessoas com Paralisia Cerebral) por causa das sequelas na fala, na coordenação motora e na habilidade cognitiva. Existem graus diferentes para cada um e o meu é só nos membros inferiores e um pouco nos braços, então é natural que depois que eu diga que tenho Paralisia Cerebral, a pessoa fique surpresa por me ver falando. 

Isso acontece muito mais do que eu gostaria, e aposto que várias pessoas, com outras patologias, também passam por isso. 

Essas situações só servem para reforçar o fato de que a pior parte da deficiência, não é a dificuldade do corpo, e sim crescer e perceber que a sociedade não te trata como a pessoa que você sabe que é. E que poucos irão me conhecer realmente como sou. 
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