Governo do Maranhão realiza primeiro parto com interprete de Libras


Estava difícil controlar a ansiedade para conhecer o pequeno Maykon. A chegada do terceiro filho do casal Maik e Louize Oliveira é um capítulo especial na vida deles e de muito mais gente, a partir de então.


MARANHÃO – De forma inédita os pais puderam acompanhar e interagir com a equipe médica durante o parto e viver toda essa experiência como se fosse a primeira vez. E foi! Pela primeira vez no Maranhão, um casal com deficiência auditiva conseguiu o direito de ter o acompanhamento de um intérprete de libras durante o nascimento do filho. Maikon nasceu na Maternidade Marly Sarney nesta segunda-feira (7), com 4 kg, 52 cm e muita saúde.

Eu estou muito feliz, graças a Deus deu tudo certo. Foi muito bom, o médico foi muito atencioso. Com a intérprete foi bem mais fácil a comunicação. Toda essa realização, essa luta, aconteceu graças ao empenho da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop) e da Central de Interpretação de Libras (CIL), facilitando todo mês a comunicação no pré-natal. Sou muito grata por essa ajuda. À intérprete, que me acompanhou o tempo inteiro. Foram nove meses de muito ultrassom, consultas. Com meus dois outros filhos não tive esse conforto. Antes eu ficava com medo, nervosa, não tinha ninguém que pudesse esclarecer. Sempre tive muito medo de sofrer algum tipo de violência, mas hoje só quero agradecer e esquecer as vezes passadas em que estive aqui”, ressaltou a mãe do Maikon.

Emocionado, o pai conta sobre a realização de presenciar o nascimento do novo filho. “Eu tô muito emocionado e muito feliz. Essa é uma história de muita luta e eu sou muito agradecido por tudo, por todas as pessoas que nos ajudaram a chegar a este momento. A Secretaria de Direito Humanos, o médico Dr. Paulo, a CIL, a intérprete, a todo mundo, por todo esse trabalho. Estou muito feliz por ter visto essa comunicação que aconteceu durante o parto, a gente ficou se observando, se comunicando o tempo inteiro. Eu tô muito feliz!”, comentou.

Acompanhamento

Durante a gestação Louize foi acompanhada pela intérprete Jacynilde Estrela, que é interprete da Central de Interpretação de Libras (CIL), serviço vinculado à Sedihpop. Jacy acompanhou todo o pré-natal, auxiliando a mãe nas consultas médicas, planejamento familiar, exames, até o pós-parto.

“Participar do parto de uma mulher surda, foi um momento maravilhoso. Uma conquista maravilhosa. Intermediar essa comunicação foi um momento ímpar, único. O primeiro de muitos que a gente espera que ainda possa vir. Fico muito feliz por poder colaborar com a CIL, que é um serviço fundamental para a comunidade surda no Maranhão. Assim como a Louize, quero agradecer por tudo, pelo empenho e a luta desta equipe tão competente”, ressaltou a intérprete.

O parto cesariano foi rápido e tranquilo, durou cerca de 15 minutos. Com uma média de vinte partos por dia, a Maternidade Marly Sarney talvez ainda não estivesse ciente da importância do fato que aconteceria ali em algumas horas. Surpreso, o médico do plantão, Paulo Sérgio Gusmão Lemos, ficou contente com a novidade e emocionado por presenciar um momento tão bonito.

“Espero que este seja o primeiro de muitos e que isso se torne uma realidade frequente em nosso meio. Foi uma grata satisfação ter sido testemunha desta evolução. Uma iniciativa dessas precisa ser levada a diante. Como podemos ser humanos sem comunicação? Foi fantástico! É muito importante que as pacientes se sintam acolhidas no momento da chegada dos seus filhos e que este seja um momento de alegria inesquecível junto de sua família. O serviço público tem que ser assim, exemplo de exercício dos direitos humanos”, avaliou.

O Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008, em conformidade com o procedimento previsto no § 3º do art. 5º da Constituição do Brasil institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando a sua inclusão social e cidadania. Para fins de aplicação desta lei estão previstas ainda a garantia de direitos básicos como acessibilidade, comunicação informação e igualdade, previstos nos artigos 3º ao 6º.

Para o Secretário de Direitos Humanos e Participação Popular, Francisco Gonçalves, promover a inclusão é o princípio fundamental da Sedihpop junto à sociedade. “A possibilidade de uma mãe poder compreender o que está acontecendo consigo mesmo e com o seu filho na hora do nascimento é uma questão básica de direito humano. E a Sedihpop, por intermédio da CIL, tem se proposto e atendido as pessoas no sentido de garantir-lhe o acesso as informações que sem a libras somente é possível aos ouvintes”, declarou.

A secretária-adjunta de Direitos da Pessoa com Deficiência, Beatriz Carvalho, comemora esse novo passo. Para ela, “a língua de sinais é tão importante para as pessoas surdas quanto o português é para os ouvintes. É a forma deles estarem conectados com o mundo, é a forma de receber as informações e a CIL tem se proposto e atendido as pessoas no sentido de garantir-lhe o acesso as informações que sem a libras somente é possível aos ouvintes. Este é o compromisso que temos em promover a inclusão”, disse.

Beatriz ainda destacou que a Central de Libras, componente do Plano Viver sem Limites da Pessoa com Deficiência, do governo da presidenta Dilma, aqui assumida pelo Governo do Maranhão, “é fruto da luta das pessoas surdas e se constitui fundamental para superarmos as barreiras de comunicação e reduzirmos a segregação das pessoas com deficiência, neste caso nos atendimentos dos serviços públicos de saúde”, concluiu.

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