Sexo
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA TAMBÉM TRANSAM.
Falar sobre sexualidade e deficiência é sempre um prazer e uma dor ao mesmo tempo.
Digo
isso porque eu sempre me alegro em poder informar as pessoas sobre o
tema, do meu ponto de vista que, já aviso, não pretende falar sobre como
todas as pessoas com deficiência se sentem, pois somos uma minoria bem
heterogênea. Não tenho a pretensão de ser porta-voz, eu falo de acordo
com minha vivência.
Por outro lado, fico triste por ainda sentir
que preciso começar do básico, esclarecendo coisas que já deveriam ser
de conhecimento de todos e que não tem a ver somente com deficiência.
Começo dizendo que sim, pessoas com deficiência têm vida sexual. Parece óbvio, mas não é o que boa parte das pessoas pensam. E esse desconhecimento tem causado efeitos bem negativos nas nossas vidas.
Primeiro,
porque na maioria das vezes uma pessoa com deficiência surge (seja
porque nasceu assim ou a lesão se deu no decorrer da vida) num ambiente
entre pessoas sem deficiência. É uma nova realidade para aquela família,
que não necessariamente vivenciou aspectos relacionados a deficiência.
Então, se boa parte da sociedade não acredita que pessoas com
deficiência fazem sexo, é muito provável que a família e até a própria
pessoa com deficiência em algum momento acredite nessa mentira. E
quando nós achamos que um assunto não nos diz respeito, não procuramos
nos informar. Se já existe uma dificuldade enorme de famílias
conversarem sobre sexo com seus filhos, imaginem se existir a crença que
não aquela pessoa não irá viver nada nesse sentido.
E é aí que milhares de adolescentes com deficiência ficam mais propensas a sofrerem abusos sexuais seja por estranhos ou até pelos responsáveis por seu cuidado.
Porque ainda tem mais esse aspecto, muitos de nós,
precisam de cuidados pessoais dados por outros e estar atento ao próprio
corpo, saber o que é aceitável ou não no que diz respeito ao toque, bem
como saber limitar é algo que não se aprende com uma cartilha, de uma
vez.
Passado esse primeiro momento, caso a deficiência tenha se
dado já na vida adulta, saber que a vida sexual ainda é possível e tem
vários novos aspectos é muito importante na reabilitação, na aceitação
do novo funcionamento do seu corpo. É muito importante estar consciente
de que nem tudo acabou ali, que uma vida com deficiência não é uma vida
sem prazer.
Retirar o foco do sexo como algo padronizado, cheio de
regras, permite que as pessoas possam exercer todos os seus desejos,
respeitando suas capacidades. Tenha ela deficiência ou não. Abrir a
cabeça para perceber que corpos diversos transam ajuda não só as pessoas
com deficiência mas pode auxiliar a quebrar prisões dentro do que as
pessoas, em geral, acham que é esperado delas no sexo.
Ainda há
um longo caminho até eu sentir que as pessoas vêem, de verdade, pessoas
com deficiência como donos de seu corpo e suas vontades, capazes de
desfrutar e proporcionar uma vida sexual plena. E eu acho que só dá para
encurtar o caminho com informação. Mas não basta eu, pessoa com
deficiência falar, é preciso que as pessoas procurem saber de nossas
capacidades, experimentando, no lugar de fazer uma sistemática negativa a
tudo que é diverso, duvidando ainda que internamente.
A grande
mentira de que pessoas com deficiência não têm vida sexual já foi dita
tantas vezes que tomam como verdade, atravancando nosso caminho para uma
vida sexual plena e feliz. Vamos colocar uma luz nessa verdade.
Texto: Mila Corrêa
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