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Paraplégicos recuperam mobilidade e vida sexual após tratamento com Nicolelis.
Pacientes paraplégicos com antigas lesões na medula espinhal
apresentaram melhoras sem precedentes na mobilidade e nas sensações com
um treinamento de realidade virtual e o uso da robótica controlada pelo
cérebro, informou nesta quinta-feira (11) uma equipe de cientistas
liderada pelo brasileiro Miguel Nicolelis.
Alguns pacientes
conseguiram até mesmo reiniciar sua vida sexual graças a esse tratamento
de reeducação cerebral e física experimentado no Brasil.
Seis
homens e duas mulheres que perderam completamente o uso dos membros
inferiores registraram progressos significativos, relataram os
pesquisadores na revista "Scientific Reports".
Em
quatro casos, os médicos foram capazes de melhorar seu status para
"paralisia parcial", um nível inédito de melhoria através de técnicas
não-invasivas.
"Nós não poderíamos ter previsto este resultado clínico surpreendente
quando o projeto começou", explicou o paulista Miguel Nicolelis,
neurocientista da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, e o
principal arquiteto desta pesquisa de reabilitação.
"Até agora,
ninguém viu a recuperação dessas funções em um paciente tantos anos
depois de ter sido diagnosticado com paralisia completa", contou a
jornalistas em uma entrevista por telefone.
Uma das mulheres
recuperou suficientemente as sensações - em sua pele e dentro do corpo -
"que decidiu ter um bebê", contou Nicolelis. "Ela conseguia sentir as
contrações", afirmou.
O progresso se traduziu em uma melhor qualidade de vida, segundo relatos dos próprios pacientes, acrescentou.
A terapia inovadora combinou diversas técnicas para estimular partes do
cérebro que antes da paralisia controlavam os membros dos pacientes,
inativas há muito tempo.
A reabilitação começou por fazer com
que eles aprendessem como operar um Doppelganger digital (ou avatar)
dentro de um ambiente de realidade virtual.
Ao mesmo tempo, os
pacientes usavam gorros justos revestidos com 11 eletrodos para
registrar a atividade cerebral através de EEG, ou eletroencefalografia.
Desempenho sexual
Inicialmente, quando eles foram convidados a se imaginar caminhando
enquanto estavam imersos em um mundo digital 3D, as partes do cérebro
associadas ao controle motor das pernas não conseguiam acender.
"Se você falasse 'use suas mãos' havia atividade cerebral", explicou
Nicolelis. "Mas o cérebro apagou quase completamente a representação de
seus membros inferiores".
Depois de meses de treinamento, estas partes do cérebro há muito tempo adormecidas começaram a despertar.
Nesse ponto, os pacientes aprenderam a utilizar equipamentos mais
desafiadores que exigiam algum controle de sua postura, equilíbrio e
capacidade de usar os membros superiores, incluindo arnês suspensos
- comuns em centros de fisioterapia - que carregam o peso do corpo.
Eles também utilizaram exoesqueletos robóticos, não muito diferentes
das armaduras articuladas e de alta tecnologia do herói dos quadrinhos
Homem de Ferro.
Nestes testes, os pacientes usavam um
dispositivo no braço equipado com uma tecnologia 'touch', chamada de
"haptic feedback", que utiliza uma série de vibrações únicas - algo como
os solavancos e zumbidos que os jogadores de videogame sentem com o
controle nas mãos - para ajudar o cérebro a treinar.
Quando um
avatar anda na areia, por exemplo, o paciente sente uma pressão
diferente em relação à constatada na grama ou no asfalto.
"O
cérebro do paciente cria a sensação de que eles estão andando sozinhos,
não com a ajuda de aparelhos", uma espécie de ilusão, explicou
Nicolelis.
Sua teoria - que ainda não foi provada - é que este
processo estimula alterações não apenas no cérebro, mas também na medula
espinhal danificada. Os resultados vistos até agora parecem confirmar
isso.
Com os oito pacientes atualmente em seu segundo ano de
treinamento, Nicolelis prepara um estudo de acompanhamento buscando
mudanças em sua qualidade de vida.
"Eles constataram, em seus
próprios termos, uma melhoria muito significativa - em termos de
mobilidade, ser capaz de sentir as pernas e a pele", contou aos
jornalistas. "Também houve uma melhoria no desempenho sexual para os
homens", acrescentou, notando que alguns deles recuperaram "a
possibilidade de ter relações sexuais e ereções.".
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