"Chocando a sociedade"


"...Eu já tinha pensado em escrever sobre os olhares das pessoas, mas senti uma necessidade de escrever depois do que aconteceu há uns 15 dias quando chegamos na AACD.

Estavam, no ponto do ônibus quatro meninos. Adolescentes no auge dos seus 15 ou 16 anos, com seus skates a tiracolo. 

Naquele dia eu estava usando um macacão de malha azul (que, segundo o Jota, me deixa muito gostosa), cabelos soltos e, claro, com meu batom vermelho. Enfim, saí causando aquele dia. 

Chegando no ponto o Jota desceu primeiro com a parafernalha do elevador do bus e eu fiquei lá em cima esperando pra poder descer. Depois que ele já tava lá embaixo e os guris já tinham acompanhado toda a descida dele, voltaram seus olhares pra mim. Eu percebi, não sou boba nem nada. Desci como uma diva, me despedi dos rapazes do ônibus e fui ao lado do Jota. 

Quando encostei a mão no ombro dele o queixo de dois deles caiu no chão. Subindo a rampa pra entrar na AACD eu vi que eles tinham torcido o pescoço pra olhar nós dois. Eu vi que conversavam alguma coisa. Provavelmente diziam: "deve ser irmã dele." 
Olhei pro Jota e disse: "quer deixar quatro meninos chocados pro resto da vida? Para a cadeira agora e me dá um beijo!"
Fizemos isso, e os quatro queixos foram pro chão. Eles nem disfarçaram. E a gente saiu rindo... rindo muito. O Jota ainda disse: "ela tá comigo por causa do meu carro!"

Reparar nos olhares desses guris foi impagável. Acho que naquele dia a gente não chocou os meninos, a gente quebrou todas as expectativas que eles tinham sobre um homem cadeirante.

Eu continuo reparando. E como sei que o Jota é desligado, as vezes mostro pra ele alguém olhando.
Não reclamo de quem olha. Acho que é meio natural a gente olhar daquilo que destoa do comum. E uma cadeira de rodas destoa porque as pessoas não estão acostumadas a ver na rua. 

Temos é que sair mais, até o dia em que as pessoas não achem isso tão incomum, nem se choquem com um casal assim, nem fiquem tão consternados com isso.
Até mais!
Bjs..."

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