Benefícios do sexo para cadeirantes (de Edy-Edimar Sachet)

   O Ministro da Saúde já recomendou e o Fantástico testou: sexo faz bem à saúde. Mas e para um cadeirante, especificamente um lesado medular, quais os reais benefícios? Além dos comprovados na reportagem, quais outros nos atingem?
É comum para quem não tem nenhum tipo de limitação física e também não convive com cadeirantes, imaginar que eles não desfrutem de uma vida sexual como a de um “andante”. O pensamento da maioria das pessoas gira em torno do movimento do corpo e, quando alguém não pode andar, também não pode usar o que fica da cintura para baixo.
   Como muita gente já está sabendo, cadeirantes podem ter uma vida sexual ativa e saudável, como todo mundo. Há as diferenças no preparo e as limitações de posição, mas a criatividade e o Kama Sutra estão aí pra isso. Os benefícios pra saúde do cadeirante englobam várias áreas. Primeiro, pra saúde mental, além de inserir socialmente (literalmente), fazer sexo minimiza a sensação de deficiência, afinal é uma coisa que todo mundo geralmente faz deitado. Traz também a revelação de que somos capazes de levar uma vida bem próxima da normalidade, poder satisfazer outra pessoa mostra mais uma capacidade que ainda se preserva.
   Em muitos casos (no meu, por exemplo), a atividade sexual aumenta a sensibilidade, e a cada transa aparecem novas sensações, músculos ou até mesmo na pele sentimos novas atividades. E o melhor, o orgasmo é a cada dia mais sentido, o arrepio no corpo, a sensação de satisfação depois. Quanto mais nos concentramos no momento, mais essa confusão de sentidos traz bons resultados.
   O benefício pra circulação também é nítido. Com o "exercício" do sexo, mesmo com movimentos limitados, nos esforçamos para encontrar boas posições e ter participação ativa no ato, proporcionando melhoria da circulação nos membros inferiores. E nos superiores também, claro.
   E como o cadeirante pode ter mais prazer? No homem o orgasmo está muito ligado à ejaculação, e os lesados medulares descobrem o que as mulheres já sabem: há outras formas de sentir prazer e chegar ao orgasmo. A lição aí é que o diálogo, independente da situação, é o maior aliado do prazer.
   É isso aí, o Ministro tem razão, sexo é muito importante pra saúde, inclusive de cadeirantes. E é bom demais da conta, né?
   Os estímulos visuais, por exemplo, responsáveis pela ereção psicogênica, passam a ser muito importantes já que nem sempre o corpo responde de imediato ao toque. Assim é necessário inventar e descobrir novas formas de amar, com muito carinho e cumplicidade tudo se resolve. “O toque, os beijos, o calor do corpo, os lábios, a língua e as carícias tornaram-se ferramentas importantes e, apesar de existir a penetração ela não o principal”, complementa o engenheiro de software e técnico de sistemas Hélio Araújo Portela, 38 anos, há 18 lesado medular.

E nas meninas?
   Várias mulheres com lesão permanecem férteis e capazes de gerar um bebê. A menstruação geralmente pára logo após a lesão, mas o ciclo menstrual volta ao normal em no máximo um ano. Depois desse período a mulher pode engravidar, desde que realize o acompanhamento médico e se atente a alguns pequenos cuidados. O risco de infecção urinária, por exemplo, é maior. Alguns estudos na área mostram que elas demoram mais tempo para alcançar o orgasmo, mas ainda que ele seja uma sensação de prazer intenso, a satisfação sexual em si não requer orgasmo. “Nas mulheres, a resposta sexual funciona da mesma maneira que nos homens, porém, como não tem ereção declarada, fica “mais fácil” manter o relacionamento sexual. Porém tudo depende muito do nível da lesão, tanto nos homens quanto nas mulheres”, afirma Magda Gazzi, que também é colaboradora do Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O projeto destina-se à assistência, ensino, pesquisa e prevenção dos transtornos da sexualidade, bem como a serviços junto à comunidade.
   Além de todas as técnicas físicas para dar e sentir prazer existem ainda as evoluções da ciência, que possibilitam uma maior qualidade para o ato sexual, por exemplo, as pílulas a base de sildenafila, como Viagra, Levitra e outros usados no tratamento da disfunção erétil no homem. “O medicamento melhora o que já existe, há necessidade de existir excitação, desejo e um esboço de ereção para que tenha o efeito esperado. Ele não provoca essas sensações, isso é da pessoa, da situação”, explica Rodrigo. “Sem o remédio dá pra levar, mas com ele a qualidade da transa é outra”, afirma o estudante de Letras, João Manuel Ardigo, 37 anos, autor de dois livros que contam sua trajetória de recuperação após ser atropelado por um caminhão há 11 anos.
   O prazer que vem do sexo acontece de muitas maneiras diferentes. A experiência de novas táticas associadas a boa comunicação entre os parceiros são as chaves para uma vida sexual satisfatória, em todos os casos. É possível viver bem numa cadeira de rodas e com qualidade, nem tudo é 100% bom ou 100% ruim. 


EDY

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