Sobre rodas e rosas


“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” – Caetano Veloso

Quando ouvi essa frase do Caetano estava no carro indo para algum lugar que não me lembro. Naquele primeiro momento, veio-me a lembrança de uma pessoa muito querida, pois tinha o costume de dizer isso em suas postagens.

O sentido me fugia. Kamila, seu nome, citava essa frase para justificar suas emoções, contudo nunca parei pra raciocinar, até o momento de escolher sobre o que falar pra vocês, rsrs.

Esses dias vivi pequenas questões femininas, nada impossível de lidar, contudo fizeram minhas ideias ferverem sobre ser mulher. Aliás, sobre ser mulher cadeirante.

Tive uma professora na faculdade, Isabelle Anchieta, o qual admiro muito pela pessoa fabulosa que é, que desenvolveu um trabalho muito interessante sobre a imagem feminina.

Grosseiramente, em resumo, seu estudo defende a ideia de que a mulher nunca foi auto representada, mas sempre gerenciada pelo homem. Sua imagem era o que diziam.

Isso te lembra alguma coisa? Aposto que sim. Quantas vezes teve de dizer aos outros quem era, ou o que sentia? Quantas vezes precisou explicar que não era doente, apesar de usar uma cadeira? Agora some essas questões próprias do universo sobre rodas mais os dilemas femininos. Somou? Ok, bem vindo ao nosso mundo.

Hoje, por meio das redes sociais, a mulher tenta elaborar sua auto-imagem, reafirmando-se em fotografias e postagens. Como diz Isabelle em um artigo:


“As mulheres comuns tornam-se protagonistas de sua vida. Chegam a dispensar a ajuda de outra pessoa para tirar a própria foto: estendem o braço e miram em sua própria direção. Algumas marcas de câmeras fotográficas desenvolveram inclusive um visor frontal para que a pessoa possa ajustar o foco caso use o equipamento para se fotografar.

Da mesma forma, esse movimento tem alcançado as cadeirantes. Hoje, apesar das dificuldades, vemos diversos perfis de usuárias com selfies divertidas interagindo com suas cadeiras. Algumas chegam a customizar a cadeira para deixar com sua cara! (leia-se eu e meu adesivo dos Beatles. :D )

Há, porém, vozes na escuridão que buscam retirar o brilho dessas mulheres. Comparações, olhares de piedade, comentários negativos e auto destruição (sim, infelizmente costumamos nos ferir com pensamentos ruins) são alguns desses vilões que nos rodeiam. O que fazer, então?

1) Se conheça! 
Meninas, já passou da hora de se olharem e se conhecerem! É sério isso, como esperam que as pessoas te entendam, se você mesmo não consegue? Como pedir que alguém te ache linda, se só enxerga seus defeitos? Como viver um amor, se não considera alguém pra se amar? Fica difícil, não é?

Ser pessimista é muito mais fácil do que ser otimista. Achar que tudo vai dar errado, lamentar e chorar dias após dias é muito mais automático do que acreditar que as coisas darão certo mesmo quando tudo diz o contrário.

P.S.: Não me refiro a depressão, pessoal. Ela é doença e precisa ser tratada com especialistas preparados pra isso. Ok?

2) Inspire-se!
Busque exemplos de pessoas que vivem os mesmos dilemas que você. Histórias de superação ajudam a restaurar a fé em nós mesmos. Temos aqui no blog vários relatos de pessoas comum guerreiras nessa batalha do dia a dia, além de casos na internet.

Entretanto, pessoal, mirem sempre nas atitudes. Lembrem que seres humanos erram e podemos nos decepcionar se esperarmos super heróis. Se tivermos como foco o que fizeram, seja obra ou trajetória, dificilmente teremos essa frustração.

Sei bem o quão difícil podem ser os dias, porém devemos levantar a cabeça e acreditar em uma verdade: viver em rodas não é o fim, apenas o começo de uma trajetória. Afinal, mulheres cadeirantes são como rosas no asfalto. Somente pessoas especiais conseguem perceber a beleza de suas cores na imensidão cinza.

Faty Oliveira


Tecnologia do Blogger.