O esporte como forma de protesto: conheça o cadeirante que fez rapel no Elevador Lacerda

 
Para chamar atenção das autoridades com relação ao problema da falta de acessibilidade, baiano Jan Carlos radicalizou

Com muita coragem e espírito de aventura, o baiano Jean Carlos, de 30 anos, resolveu usar o esporte para protestar contra a falta de acessibilidade no Brasil. Tetraplégico desde os 26 anos, o soteropolitano fez rapel no Elevador Lacerda, famoso cartão postal de Salvador, no mês de julho e chamou a atenção de quem passava pela região do Comércio.

Jan Carlos perdeu o movimento dos membros há quatro anos e seis meses. O soteropolitano estava reunido com amigos, quando resolveu fazer um mergulho em uma piscina e bateu com a cabeça no fundo, ficando tetraplégico.
Antes do acidente, Carlos sempre teve uma alma muito jovem e corajosa. Fez parte de brigada de incêndio, gostava de andar de skate, além de ser um cara que se ligou em fazer tatuagens. Hoje, para sobreviver e manter sua família, ele trabalha como designer gráfico, utilizando uma órtese, na qual deixa o seu dedo indicador firme para trabalhar com o teclado. 
Jan mora com a mulher, Henriette Xavier, e seu filho, Miguel Xavier, há quase um ano em Lençóis. O designer conta como foi difícil para sua família receber a notícia que ele iria ficar tetraplégico. "Foi muita dor para eles. Minha mulher ficou desesperada e custava acreditar no que estava acontecendo. Meu filho de 3 anos não entendia muita coisa, mas eu fiquei sentido porque eu pensava como seria daquele momento para frente, tendo em vista que sempre brinquei muito com ele", contou. 
Problemas à vista - Após o acidente, muitas dificuldades passaram a fazer parte do cotidiano de Jan. "Eu sou muito grande, tenho 1,90m e peso quase 100kg. Agora, imagine minha mulher me empurrando na cadeira de rodas nessas ruas. Não tem condições", disse Jean, reclamando das ruas de Lençóis, que é feita de paralelepípedos. Pensando nessas dificuldades, ele resolveu fazer uma campanha na cidade onde é morador para que conseguir comprar uma cadeira elétrica.
"Foi uma campanha feita pela internet, carro de som e até em rádio. Precisava sair de casa, respirar outro ar que não fosse o de dentro de quatro paredes. Com a cadeira de rodas normal, isso não era possível. Até que apareceu uma pessoa que eu nunca vi na vida e me deu uma cadeira elétrica, que custa R$ 10 mil. Eu nem acreditei. Sou muito grato a esse homem", contou.  Depois de ter recebido a cadeira, porém, outros problemas apareceram. "Na primeira vez que coloquei a cadeira na rua, a roda empenou. Naquele momento eu percebi que a coisa era maior do que eu pensava. Eu tinha que lutar para ter acessibilidade". 
Espírito aventureiro - O designer ficou pensando como poderia abrir os olhos das autoridades para que as pessoas com deficiência tivessem o direito de andar pelas ruas quando quisessem, sem a necessidade de um acompanhante. "Alguns amigos que trabalham com rapel me fizeram o convite para descer o Elevador Lacerda e, no mesmo momento, eu percebi que ali era a ação que eu estava procurando para chamar a atenção das autoridades".
Segundo o aventureiro, que hoje já consegue fazer alguns movimentos com os braços, a intenção real de descer o elevador fazendo rapel é mostrar que, com a atenção adequada, as pessoas portadoras de deficiências são capazes de fazer mais coisas do que esperam e superar as dificuldades. Jean aproveita e manda um recado. "Essa luta não é só minha. Quero que todos que têm dificuldade com locomoção não se conformem com essa situação, lutem, briguem. Vocês merecem viver", desabafou.


Victor Fonseca
(victor.fonseca@redebahia.com.br)
http://www.ibahia.com/
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