Dia de chuva
Baseada em fatos reais
-Vamos Bia, é o Arraial da minha escola, meus amigos vão estar lá também!
-Ah não, Gisa. Agradeço, mas tá chovendo e é ruim de sair com chuva.
-Tu sabe que o estacionamento é coberto, arruma outra desculpa... Até o Renato vai tá lá!
-E o que tem o Renato? Tu viu o jeito que ele ficou me olhando assustado naquele dia.
-Que assustado, guria. Ele só tava te olhando de canto pra não dar muito na cara. É normal! Mas nem quero saber, trouxe até um chapéu com trancinhas pra ti usar e não aceito não, como resposta.
-Aff, Gisa. Tu é muito chata! Eu vou, mas vou ficar meia hora apenas.
-Não tem problema, meia hora tá ótimo!
As duas amigas se vestiram, passaram blush nas bochechas e pra finalizar fizeram as pintinha. Depois de prontas, fizeram um selfie para postar no instagram de cada uma.
Nas fotos Bia parecia tranquila e animada, mas dentro dela o coração batia mais rápido e as mãos ficavam geladas, o que sempre acontecia quando ela pensava em sair para algum lugar.
Na cabeça de Bia, ela imaginava o que faria se na escola tivesse degraus, o que ela beberia para não precisar ir no banheiro e como ela conversaria com as pessoas, caso o som tivesse alto demais...
Mil pensamentos antes de ir, mil estratégias e mil coisas que nem acontecia, de fato. Ela sempre soube que toda aquela preocupação era besteira, mas ela não conseguia controlá-la e ficava sempre naquele estado.
Uma garota da idade delas, se aproximou e cumprimentou com beijinhos no rosto a Gisa.
-Oi Gisa!
-Oi Lila, essa é minha amiga que te falei, a Bia.
Já à Bia, ela apenas olhou para ela e deu um sorrisinho falso. Bia não gostou nada disso e já teve, naquele momento, uma repulsa com aquela garota.
-Onde podemos ficar?
-Vamos lá, ao lado da escada.
Disse Bia, apontando pro local menos movimentado.
Lá ela ficou a festa toda. De vez em quando Gisa dava uma fugida para conversar com seus colegas e Bia permanecia ali, em silêncio e fingindo pra sí mesmo que estava gostando da festa. De minuto em minuto ela pegava o celular e digitava algumas coisas para fingir que estava ocupada.
Numa dessas vezes, ela tirou os olhos do celular e olhou pra frente. Lá no fundo ela avistou Renato, parado, com um copo na mão e com seus amigos em volta.
Ela sempre foi encantada por ele, desde o dia que ela o viu em um bingo da igreja, onde ele sentou na mesa em frente da dela. Mesmo com jeito sério de não sorrir muito, ela se apaixonou pelo único sorriso que ele deu na hora que ele fez bingo.
Bia fixou o olhar nele por alguns segundos e torcia para ele sorrir novamente. Mas do nada, ele olhou para ela e constrangida por ter sido pega no flagra, Bia voltou a mexer no celular.
Seu coração se acelerou mais ainda, mesmo assim, ela não desistiu e espiava algumas vezes torcendo para não ser notada.
Numa dessas vezes ela olhou para Renato e viu que ele estava olhando pra ela e sorrindo de forma debochada. No mesmo instante ela imaginou que ele podia estar rindo dela, baixou a cabeço e ligou para seu pai ir buscar-la
Enquanto Bia falava com seu pai no celular, Gisa chegou com um algodão doce para a amiga.
-Tá ligando pro teu pai?
-Tô. Eu vou embora, tô com um pouco de dor nas costas.
-Ah não, Bia. Agora que a festa tá boa. Você não está gostando? Desculpa, eu não vou mais sair daqui...
-Não é isso, Gisa. A festa tá boa mesmo, mas eu prefiro ir amiga.
-Ai... Tudo bem. Vou te levar lá fora...
Gisa virou para o lado da mesa e largou o copo que tinha na mão. Nesse mesmo instante dois meaninos chegaram e anunciaram que ela havia sido presa (brincadeira tradicional dessas festas). Ela tentou explicar que me levaria a amiga até a saída, mas a própria Bia disse para ela que não tinha problema, que ela se empurraria sozinha até lá e era pra amiga se divertir.
Enquanto Gisa era "presa", Bia foi tocando sua cadeira de rodas levando seu algodão doce no colo. Ela sabia que seu pai demoraria, mas preferiu esperar na rua já que havia parado de chover.
Bia estava parada, olhando para o chão molhado da chuva, quando viu um uma sombra se aproximar. Ergueu os olhos e viu que reconhecia aqueles sapatos, aquelas calças, aqueles olhos. Era Renato.
-Oi.
-Oi.
-Por que você tá aqui, sozinha, na rua?
-Tô esperando meu pai vir me buscar.
-Não gostou da festa?
-Gostei sim. Mas, eu... tenho um monte de trabalho para fazer e preciso ir.
-Ah, entendi.
Ficaram em silêncio e ele, que estava parado na sua frente em pé, agora havia se baixado para ficar na mesma altura que ela. Bia sentiu seu rosto corar, não entendia porquê ele estava fazendo aquilo e nem sabia o que pensar.
-Posso te beijar?
-Hã? Beijar?... Pode...
Renato se aproximou e ela pode sentir o cheiro dele. Quando estava com os lábios quase se tocando, a buzina do carro do pai de Bia interrompeu o que os dois estavam fazendo e Renato notou que o mais conveniente era se despedir com um beijo na bochecha.
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