Veja como é o treinamento dos cães que auxiliam pessoas com diferentes tipos de deficiência



RIO- A história de Maria Clara e Pandeiro teve início há pouco mais de um ano. Foi quando o labrador de pelos escuros chegou à casa da menina, que hoje tem 8 anos. Desde então, ele a acompanha em passeios, viagens, brincadeiras... Está sempre por perto, seja nos momentos mais alegres ou naqueles mais difíceis. Sua presença parece ser tão significativa na vida de Maria Clara que, depois que o cão chegou, ela começou a verbalizar algumas palavras, o que antes não fazia: fala mamãe e papai em alto e bom som, cantarola músicas. Pandeiro é um cão de assistência treinado para lidar com crianças dentro do espectro autista.

— Uma das tarefas mais importantes dele é evitar as fugas da Maria Clara. Se estávamos na rua e ela via algo que a interessava, saía correndo, o que é muito perigoso. Hoje fica conectada ao Pandeiro nos passeios e, se tenta fugir, damos um comando e ele se senta, evitando que ela vá longe — explica a professora Eliana Souza Bezerra, mãe da menina.

Ela conta que Maria Clara tem com Pandeiro um cuidado enorme: separa comida para ele, limpa seus olhos, abraça apertado.

— Ele também já aprendeu que, se ela estiver abraçando demais e muito forte, pode sair andando — brinca Eliana. — É uma história muito bonita a dos dois. Eu só vejo coisas positivas desde a chegada do Pandeiro.

O mais conhecido dos cães de assistência é o cão-guia, que auxilia aqueles que têm deficiência visual. Mas nem todos sabem que os animais também podem ser treinados para atender pessoas com mobilidade reduzida, em cadeiras de rodas ou aparelhos ortopédicos; que tenham deficiência auditiva; e crianças com autismo. Há também os cães de alerta médico, que detectam mudanças nos níveis de açúcar no sangue de pessoas com diabetes tipo 1.

Pandeiro é o cachorro da Maria Clara, menina diagnosticada com autismo

— Na maioria dos casos, são labradores ou golden retrievers, pois aproveita-se as qualidades naturais dessas raças. Por exemplo: esses cachorros pegam e entregam um objeto sem destruí-lo, o que é muito importante para quem usa cadeira de rodas. Já para quem tem deficiência auditiva, os vira-latas são ótimos, pois são mais reativos a sons — explica Rocio Marin, uma das responsáveis pela Bocalán Brasil, associação que forma treinadores e entrega cães de assistência àqueles que precisam.

Foi a Bocalán Brasil que adestrou Pandeiro por dois anos, antes que ele fosse para a casa de Maria Clara. Rocio explica que os custos de um cão assim podem chegar a R$ 35 mil, incluindo comida, veterinário e treinamento desde que eles nascem até os 2 anos de idade, quando estão prontos para serem cedidos a uma família. Quem recebe não paga nada pelo bichinho.

— Entendemos que essas famílias já têm muitos custos e, por isso, procuramos financiamento por fora: temos uma escola de formação de profissionais, fazemos cursos, seminários, temos parcerias com empresas privadas. Os voluntários e patrocinadores são fundamentais no nosso projeto — diz Rocio.

GAIA TIRA CASACO, MEIA E TÊNIS

A golden retriever Gaia tinha apenas 58 dias quando começou seu treinamento com o adestrador comportamentalista Raul Garcia. Agora que tem 1 ano e 4 meses, ela busca qualquer coisa e entrega no colo do treinador. Gaia está sendo preparada para, entre outras possibilidades, auxiliar pessoas em cadeiras de rodas.

— Eu sempre deixo cair a chave ou a carteira, e ela me entrega automaticamente. Tudo faz parte do treino — explica Garcia. — Ela sabe também tirar o casaco de uma pessoa tanto pela manga quanto pelo capuz. Tira até as meias e os sapatos.

Gaia ainda não tem um dono. Ele será definido a partir de uma lista de espera da Cão Inclusão, projeto social da Tudo de Cão, empresa de adestramento de Leonardo Ogata.

— A primeira fase de adestramento é a da socialização, depois vem a questão da obediência. Isso leva cerca de um ano. Depois, são treinos específicos: pegar algo do chão ou abrir a porta, por exemplo. No processo de formação da dupla, quando o cão é apresentado à pessoa com deficiência, fazemos um treinamento completamente personalizado — afirma Ogata.

Gaia é muito ativa, segundo Garcia. Por isso, a pessoa que a receber terá que ser ativa também, o que significa sair com ela, levá-la a lugares diferentes. Parte do seu treinamento já incluiu até mesmo idas ao cinema com o adestrador para saber como se comportar nesse tipo de ambiente.

Os cães de serviço costumam usar um colete, indicativo de que estão naquele momento cuidando de uma vida. Segundo Garcia, é fundamental que a população em geral preste atenção a isso:

— O cachorro, quando está em serviço, precisa estar focado. Por isso é importante que as pessoas não ofereçam comida ou brinquem com ele nesse momento.

Eliana, mãe de Maria Clara, conta que Pandeiro fica até mais sério quando coloca o colete.

— Usamos quando estamos em lugares públicos, quando a Maria Clara está passeando com ele. O colete é bom também para que as pessoas saibam que ali há uma pessoa com uma necessidade especial.

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