Entrevistas
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Durante muito tempo, uns 13 anos, peregrinei em consultórios médicos em busca de respostas ao que sentia, pois tropeçava muito, era como se “mandasse minha perna subir 15 cm e ela só subisse 14, para subir uma escada, por exemplo”. Até que tive um surto severo. Começou com a coluna lombar, que doía muito, depois a perna esquerda estava sem equilíbrio e força, depois braço e, por último, a fala. Fui procurar um neuro em POA , e a primeira pergunta da médica foi se eu falava sempre daquele jeito. Aí, fiquei internada para tratamentos e exames. A partir de exames de líquor, sangue, ressonância magnética e clínico foi, finalmente, definido o diagnóstico.
Comecei a ler muito sobre EM, saber o que tinha, e entendi que a doença já se manifestava há muito tempo e o que pensava ser outros problemas era a EM dizendo “estou aqui”. Ainda no hospital pensei que se Deus me deu esse fardo é porque sabe que posso suportar e que me deu junto uma missão que deveria descobrir qual era.
A partir desse surto, comecei a mancar. Passei a observar melhor minhas condições para perceber se estava em surto e procurar ajuda e tratamento – pulso terapias com corticoide. Em 1998, me indicaram o interferon. Fiquei pensando, pensando... por uns 6 meses antes de encaminhar a papelada da Secretaria de Saúde. Na época, o interferon era novidade, e com efeitos colaterais não totalmente conhecidos. Esperei por mais uns 6 meses, acho, até que veio. Usei por dois meses e como persistiam as manchas vermelhas nos locais de aplicação, reclamei e mostrei aos médicos. Foram feitos exames de controle e constataram que o remédio estava causando reações indesejadas no meu fígado e na minha tireoide, o que levou a suspenderem o uso. Tanta espera para nada...
A doença continuou progredindo lentamente, mas eu me recusava a enxergar o quanto estava modificando minha vida. Quando comecei a usar cadeira de rodas não pude mais negar e tive uma profunda depressão, que hoje já superei. Parar de dirigir, de trabalhar, acabar um casamento, tudo isso junto com a dependência foi um fardo pesado para mim. Sinto hoje que toda revolta e angústia de ter uma doença incurável e progressiva não puderam mais ser disfarçadas e cobraram sua existência e falta de atenção.
Desde o início a fisioterapia me ajudou muito, junto com ajuda psicológica que busquei em vários momentos. Hoje faço fisioterapia, fonoaudioterapia, acupuntura e reiki e vejo nesse mix minha forma de melhor conviver com a EM. Penso também que a forma como as pessoas, conhecidas ou não, me olham com carinho e admiração é um dos principais incentivos que recebo por e para continuar lutando. Acho que continuar de cabeça erguida, sorrindo, sem me esconder faz parte da minha missão.
Tem coisas que até hoje não “acostumei” (tenho vergonha, não gosto) a usar fraldas e ser dependente, mas assim como a cadeira, juntos auxiliam em muito meu dia-dia e garantem meu bem estar e conforto no meu cotidiano. Aceitá-los e parar de brigar com eles faz muito mais bem do que a vergonha que causam.
Por isso digo: a vida continua linda, com certeza. Não se desespere, não precisa mudar seus planos, o ideal é ir em frente porém com mais calma. Respeite o ritmo que seu corpo pede, mas não se acomode. Não se faça de vítima nem use a EM como forma de barganha para atingir seus objetivos. Procure tempo e espaço na sua rotina para si mesmo, terapias, atividades relaxantes e que respondam às suas questões.
21.08.2006
Hoje dia 15.06.2013, posso dizer que foram poucas as mudanças após esse período, mas não faço mais reiki e acupuntura.
Na questão saúde a principal modificação ocorreu em dezembro passado, quando foi constatado que a musculatura da bexiga perdeu a capacidade de expelir a urina armazenada. Então se tornou necessário sondagens como alternativa de esvaziamento. Hoje uso sonda Foley – de demora – com urostop que me dá muita liberdade pois sondo toda vez que necessito. Foi fácil a adaptação e quando está bem colocada e no lugar não sinto nada.
Na questão vida o grande diferencial foi ter começado a frequentar a LEME – Assoc. Lesados Medulares do RS. Foi onde “achei minha turma” e voltei a ter vida social às terças e quintas, pelo menos. Kkkkkkkkkkk A LEME me proporcionou voltar a participar da vida da cidade, dos Conselhos Municipais de Assistência Social e das Pessoas com Deficiência, a me sentir integrada. Foi a melhor coisa que me aconteceu.
Teria mais para comentar sobre a LEME na minha vida mas seria adiar o envio desse e-mail.
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