Conheça Fábio Grando...



Sempre gostei de ter minha vida planejada, de fazer planos a curto e médio prazo. Estava em um curso com o qual me identificava e tinha um bom emprego. Com tudo indo bem, já fazia planos para quando me formasse jornalista, que seria em 2008.


Infelizmente meus planos foram interrompidos no dia 18 junho de 2006.Era ano de Copa do Mundo e no domingo, dia 18, eu e mais alguns amigos resolvemos marcar uma festa e convidar o pessoal para assistirmos ao jogo entre Brasil e Austrália juntos, e assim foi.

O dia estava ensolarado e seco, como de costume nessa época do ano em Brasília. Foi então que resolvi tomar a iniciativa e ser o primeiro a pular na piscina. Entrei e para minha frustração poucos se animaram a fazer o mesmo, foi então que resolvi abandonar a ideia. Quando já estava me vestindo, o pessoal resolveu entrar. Ainda nem havia dado tempo de me secar, e quando vi que minha ideia havia sido aceita, resolvi entrar novamente e foi ai que aconteceu algo que eu, definitivamente, não havia planejado.

Ao saltar de ponta na piscina, meu corpo inclinou demais, levantando as minhas pernas e fazendo com que eu batesse a cabeça no fundo. Lembro perfeitamente de ouvir o barulho do choque da minha cabeça com o piso. Imediatamente perdi todos os movimentos, mas não desmaiei, continuei consciente, porém sem poder me mexer. Eu estava embaixo da água e minha cabeça começou a sangrar devido a batida, foi então que um amigo percebeu e me retirou da água.

Eu não sentia dor alguma, apenas muito cansaço no corpo. Meus amigos me colocaram sentado fora da piscina, eu sequer conseguia levantar a cabeça, perdi completamente todos os movimentos.
Percebendo isso, me deitaram no chão e ligaram para uma ambulância. Assim que os bombeiros chegaram, imobilizaram meu pescoço e me encaminharam ao Hospital de Base de Brasília. Lembro de quando estava dentro da ambulância escutar um dos bombeiros comentar com o motorista “Vamos devagar, sem balançar muito”. Na hora não entendi bem, afinal o que mais queria era chegar logo, encontrar meus pais e saber o que realmente havia acontecido.

Fui operado 17 dias antes do meu aniversário, colocaram uma placa de titânio e quatro parafusos na vértebra fraturada. Logo depois, comecei a fazer fisioterapia, mesmo na cama dentro da enfermaria. Em seguida, consegui ter algumas melhoras simples, como virar o pescoço ou levantar um pouco os braços, coisas pequenas, mas que se tornam enormes nesses momentos.

Na verdade, mesmo com algumas melhoras, a ficha de estar tetraplégico caiu apenas quando me colocaram pela primeira vez na cadeira de rodas. A sensação é estranha. Boa por conseguir sair da cama e ruim por ver o tamanho das minhas limitações.

Eu permaneci no Sarah do dia 22 de junho até outubro, quando finalmente voltei pra casa.
Em fevereiro de 2007, eu fui convidado pela primeira vez para ir ao Sarah do Lago Norte. Esta unidade do Sarah, diferentemente da primeira que eu fiquei quando fui operado, é voltada mais para a fisioterapia e para simular situações do dia a dia, para ensinar o paciente a conviver melhor com a cadeira. Consegui me adaptar as situações, reaprendi a comer, a segurar um copo e empurrar, mesmo que devagar, a cadeira. Tudo para tentar conseguir voltar a fazer o máximo possível das coisas que eu fazia antes.

Após sair do Sarah, no final de fevereiro, decidi retornar a faculdade. Voltei ao quinto semestre.
 Com a minha volta, sentia que parte do que eu fazia antes, ainda era possível de ser feito, mas de maneiras diferentes e sempre contando com ajuda dos amigos. Graças a essas ajudas de colegas e amigos consegui me formar jornalista em junho de 2008, apenas 6 meses depois do que eu havia planejado.

Desde o dia que comecei a fazer exercícios, ainda na cama do hospital até os dias de hoje, continuei fazendo fisioterapia na maior parte do tempo. Aprendi a conviver com as minhas limitações e a aceitar o que me aconteceu. Porém, apesar de aceitar o meu acidente e as consequências dele, eu jamais irei me conformar com o ocorrido. Passo os dias a procura de algum tratamento, de uma nova forma de fisioterapia, de qualquer coisa que possa me ajudar a melhorar, nem que seja um pouco.
Algumas pessoas se assustam quando me escutam dizer que o que me incomoda não é o fato de estar em uma cadeira de rodas, com isso consigo conviver facilmente. O que incomoda é o fato de não poder mexer as mãos, o que me torna uma pessoa completamente dependente. Sem poder sequer buscar um copo d’agua ou sair da cama para a cadeira sozinho. É por esse entre outros motivos, que jamais vou desistir de buscar a minha recuperação.

Costumo encarar o que aconteceu de uma maneira positiva.Afinal, se não fosse pelo meu acidente, minha mãe jamais estaria naquela quinta-feira, no dia 22, naquele exato local, dentro de um hospital para ser salva após um infarto "fulminante".

Então se tudo o que me aconteceu foi para salvar minha mãe, com certeza absoluta eu vou aceitar o ocorrido, mas isso jamais me impedirá de correr atrás dos meus sonhos e buscar melhorar o máximo possível. Se não for pra voltar a andar, que pelo menos eu consiga me tornar uma pessoa mais independente. Eu jamais deixarei de acreditar.
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