Fui obrigada a me sentir diferente...



Por Carol Constantino

Eu nunca caminhei, sempre fui cadeirante e nunca me considerava uma pessoa diferente. Frequentei uma escola municipal onde nunca sofri preconceito por parte das crianças, na verdade, elas adoravam pegar minha cadeira para brincar ou até mesmo me empurrar para que eu participasse da brincadeira "pega-pega".

Depois que terminei o ensino médio em um outra escola -onde fui muito bem acolhida-, chegou o momento em que eu queria trabalhar e me tornar independente, assim como minhas amigas.
No começo eu estava muito confiante que logo arrumaria um emprego, pois levava em consideração a minha escolaridade, minhas características profissionais e também se nada disso fosse o suficiente, eu poderia apelar para a cota de pessoas com deficiência nas empresas.

Larguei diversos currículos em Bancos, lojas e outros lugares. Para minha surpresa, depois de duas semanas finalmente recebi minha primeira proposta vinda de uma loja de móveis; No dia seguinte fui até lá para saber como funcionaria.

Quem me recebeu foi o gerente, ele me informou que era necessário eu trabalhar de segunda à sábado, 8 horas ao dia sendo que 1 hora era horário de almoço. O  local não tinha nenhum banheiro adaptado e o pagamento era de 1 salário mínimo. Perguntei qual cargo eu ocuparia e ele me disse que não sabia de fato, mas com o tempo eles achariam alguma função para mim.

Depois dessa conversa eu agradeci a atenção, o interesse e disse que voltaria a falar com eles, caso me interessasse. É claro que não aceitei.
Depois desse dia voltei pra casa um pouco desanimada, porém, ainda estava um pouco esperançosa, pensando que alguém me ligaria para oferecer algum trabalho melhor. Mas isso não aconteceu e foi aí que caiu minha fixa.

Neste momento fui obrigada a me sentir diferente, em desvantagens comparada com os demais, percebi que essa era a realidade das pessoas com deficiência. Até então eu me sentia como uma pessoa comum, mas a sociedade me obrigou a começar a me enxergar diferente mesmo sabendo que não sou.

Eu desiste de procurar emprego com a carteira assinada, pois acabei me envolvendo em outros tipos de trabalhos que me ofereceram melhores condições. Infelizmente não são todas as pessoas que têm a mesma sorte que eu, muitos ainda continuam em casa recebendo seu beneficio, com medo de tentar arranjar um emprego porque mesmo com uma boa escolaridade, ainda são oferecidas vagas, apenas para preencher a cota exigida, com remuneração mínima.

Quem seria bobo de passar trabalho para pegar um transporte público caótico e ficar horas em uma empresa que não te valoriza, para acabar recebendo o mesmo se estivesse no conforto de sua casa recebendo o benefício? Desculpe, mas eu sou uma pessoa com deficiência e não boba!

Com o passar do tempo, estou vendo nascer mais projetos e empresas assistências que tem o objetivo de melhorar a atual situação da inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Isso me deixa muito feliz, pois creio que com isso, no futuro as coisas irão melhorar muito!

Acredito que este meu desabafo irá de encontro a grande número de pessoas que passaram pelas mesmas frustrações que passei!!! De um,a coisa tenho certeza: não somos os únicos e certamente muitos outros também passarão por situações iguais ou parecidas. O que me faz continuar acreditando é que muito vem se fazendo por nós e que tem tudo para dar certo!
Vamos ficar na torcida!

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