Fotografando a beleza de uma cadeirante

O fotógrafo Michel Alves de São Paulo, realizou recentemente um ensaio fotográfico de Raquel Carvalho que é cadeirante. O resultado ficou incrivelmente lindo, veja o que ele fala sobre este trabalho:

Este foi o meu primeiro trabalho voltado para cadeirante e adorei realiza-lo. Conheci a Raquel e o Messias (marido) através de uma amiga que temos em comum. Quando soube que ela é cadeirante, me senti maravilhado com a oportunidade, pois sempre quis ter essa experiência e na mesma hora já me veio a cabeça o monte de ideias para as fotos.

Propus um parque, tinha certeza que ficaria bacana, queria passar a sensação de liberdade.... a sensação de muita vida.

No decorrer das fotos, via a disponibilidade do casal. O carinho que o Messias a conduzia e a ajudava nas tarefas mais simples, arrumando o cabelo dela por exemplo.

Em momento algum me senti “travado” e não deixei de realizar nenhuma composição por acessibilidade, subimos e descemos escadas, via que isso a deixava mais segura do que estava fazendo e ao mesmo tempo eu passava uma segurança que achava importante.

A Raquel foi muito disposta em todo o ensaio, até nas minhas mais malucas propostas, em não se importar nem um pouco em deitar no grama molhada por exemplo. Dava para perceber a alegria dela, realmente estava sendo mágico para o casal.

Com esse ensaio quero sensibilizar os que são deficientes, a se verem de uma maneira artística com seus próprios retratos, que com disposição e boa vontade, a limitação é zero.

Depoimento da Raquel

Meu nome é Raquel Carvalho, sou portadora de Chacot-Marie-Tooth é uma síndrome genética. Desde pequena sofri com essa síndrome, quando completei 11 anos piorou afetando demais o meu desenvolvimento, meus pais e irmãos corriam atrás de médicos; recursos e nada quando estava com 21 anos foi dado o diagnostico “Chacot-Marie-Tooth”.

Para mim foi um alivio de certa forma, de tanto ouvir das pessoas falarem que eu não andava direito por que simplesmente não queria, até eu mesma comecei a acreditar que era psicológico. Com o diagnostico comecei a me cuidar melhor, alimentação, exercícios corretos, hoje ando em distâncias pequenas mas fico a maioria do tempo na cadeira de rodas. Mas nunca desisti da vida, voltei a estudar fiz cursos técnicos e faculdade de pedagogia.

Sempre tive vontade e receio ao mesmo tempo de fazer um ensaio fotográfico.

Depois de muito incentivo de uma grande amiga Camila Soares, me apresentando o trabalho de um fotógrafo amigo dela, decidimos fazer as fotos. Com a escolha perfeita do local, um parque lindo aqui em São Paulo, com muito verde, flores, céu, vida.... Essa sensação de liberdade que o fotógrafo queria passar.

No início foi meio suspense, não tinha ideia do que iria acontecer, estava muito ansiosa meus pensamentos estavam focados na marquinha de expressão na testa que ficaria nas fotos, porém a descontração da equipe que ali estava, me deixou muito a vontade e me sentia querida.

O tempo estava perfeito, apesar que a noite anterior foi de chuva e frio, portanto com os ventos soprando a favor fui me soltando e entrando no clima dos cliques e flashes que me apontavam. A cada foto que o fotografo falava “UAU” e me mostrava, senti a gratificação dessa oportunidade que me propus.

Eu sou uma mistura de timidez com exibicionismo, então para fazer as fotos faram momentos de realização, com a ajuda e profissionalismo do fotógrafo saiu tudo perfeito. Sem contar que a auto-estima vai lá nas alturas, sempre digo que ser positivo é tudo, é mais um sonho de muitos realizado, graças a Deus.

Faça você também um ensaio fotográfico se tiver oportunidade, a fotografia não é apenas uma lembrança, mas também ajuda no processo de aceitação do corpo e da deficiência, aprendemos a nos amar de verdade.