Dica de Filme: MAR ADENTRO.


Mar adentro conta a história verídica de Ramón Sampedro, um espanhol que ficou tetraplégico após um mergulho, e viveu 29 anos após o acidente sendo cuidado por seus familiares e lutando pelo direito de “morrer dignamente”, como ele mesmo dizia. Seu caso foi levado aos tribunais em 1993 para conseguir a legalidade da eutanásia, mas o pedido foi negado. Na carta de Sampedro destinada aos juízes, em 13 de novembro de 1996, desdobra-se uma idéia que aparece repetidas vezes no filme: “viver é um direito, não uma obrigação”. Assim, Ramón coloca em cheque a regulação da vida e da morte pelo Estado e pela Igreja e acusa “a hipocrisia do Estado laico diante da moral religiosa”.

O debate com a igreja sobre eutanásia aparece no filme na figura de um padre, também tetraplégico, que resolve visitar Sampedro. Como a escada para o segundo andar, aonde se encontra o protagonista, é muito estreita, e não permite que passe a cadeira de rodas do padre, os dois comunicam-se via um seminarista, que corre de um lado a outro dando recados com uma expressão tensa, ansiosa e confusa, como se estivesse prestes a submergir numa profunda crise existencial e religiosa. Até que o padre e Sampedro passam a conversar aos berros e sem mediação, de um lado falando-se da importância de manter a vida, de outro, denunciando-se que a Igreja Católica não tem moral para falar de respeito à vida depois da Inquisição.
O personagem de oposição direta ao padre é a advogada Julia, que quer cuidar do caso de Sampedro. Se por um lado o padre, pelo seu estado físico e representando a Igreja, parece ter legitimidade para tentar dissuadir o protagonista da idéia de eutanásia, a advogada Júlia, portadora de uma doença degenerativa hereditária (Cadasil), que se caracteriza por acidentes vasculares recorrentes que conduzem à invalidez e demência, procura trazer a discussão e a legitimação do caso para o plano racional, individual e não dogmático. Ao mesmo tempo, Júlia também é o canal entre o espectador e as poesias, as viagens e toda a vida de Sampedro antes do acidente. Juntos escrevem um livro, partilham um cigarro, trocam um beijo, afeto, impossibilidades, desejos, frustrações e a morte como finalidade.

É nesses percursos que Mar Adentro consegue trazer à tona os vários nós da questão. Momentos tensos, de debate, momentos de ternura e da impossibilidade do contato físico, a dor da família de Sampedro, mas também a do protagonista. Quando em 1998, Ramón consegue encontrar, na figura da personagem Rosa, “alguém que realmente o ame e o ajude a morrer”, ele deixa um testamento concluindo o argumento da vida como obrigação, e aliando a ela um debate que sinaliza as tensões e as questões de poder que permeiam a vida e a morte [...].


Sinopse: Ramón Sampedro (Javier Bardem) é um homem que luta para ter o direito de pôr fim à sua própria vida. Na juventude ele sofreu um acidente, que o deixou tetraplégico e preso a uma cama por 28 anos. Lúcido e extremamente inteligente, Ramón decide lutar na justiça pelo direito de decidir sobre sua própria vida, o que lhe gera problemas com a igreja, a sociedade e até mesmo seus familiares.

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