Querido diário, hoje é 27/06/2018 ...



No domingo passado vi a reportagem de Myriam Rawick, uma menina que ficou conhecida por escrever um diário contando como é viver num país em guerra, na Síria. Isso me fez lembrar da Anne Frank que ficou conhecida por escrever sobre seus dias escondida em um quarto por causa da Segunda Guerra Mundial. E também da Malala que ganhou fama mundial ao escrever em seu diário sobre as barreiras que as meninas enfrentavam para poder estudar no Paquistão... Foi ai que tive a ideia de também fazer um diário e contar um pouco da minha realidade vivendo em um país que não está em guerra, mas que torna os meus dias em verdadeiras batalhas por não respeitar os meus direitos como mulher com deficiência!

Mas "pera aí", quero deixar claro que não tenho a intenção de ganhar fama com isso, quero apenas compartilhar o que acontece comigo para que você também comece a perceber formas de preconceitos velados presentes em nossas vidas. Ou quem sabe, chamar a atenção daquelas pessoas que nos discriminam... Sonhar não custa nada! 


É claro que nem todo dia eu terei alguma coisa para compartilhar com você, mas quando tiver, fique tranquilo que te conto. Hoje vou começar falando sobre um fato que no dia nem me toquei que foi discriminação, mas depois de refletir notei que era. 

Querido Diário,

Hoje é dia 27/06/2018... Tive fisioterapia pela manhã. A minha fisioterapeuta me atende em casa, até tentei fazer pelo SUS mas não foi nada bom, o fisioterapeuta não me auxiliava e nem encostava em mim e assim eu não conseguia fazer praticamente nada, por isso optamos em pagar... Mas, fico pensado, e quem não tem dinheiro para pagar?

Na parte da tarde fui até a entidade que faço meu estágio, vou me formar no final do ano e o estágio é necessário para que eu conclua a graduação. Nesse dia teve jogo do Brasil, então todo serviço parou e eu e meus amigos fomos assistir o jogo num barzinho lá perto. Foi uma tarde muito animada, cheia de amigos, risos e 2 gols do Brasil. 

Saindo de lá, eu precisei ir até a faculdade para assinar o contrato para minha formatura, então peguei um táxi (adaptado) e fui. Minha amiga até perguntou porquê não pegava um Uber, mas eu disse pra ela que era impossível pois não existe Uber Adaptado e tão pouco motoristas que aceitem desmontar minha cadeira e colocar no carro...

Chegando lá, falei com minha professora que estava preocupada com a acessibilidade em minha formatura e ela se prontificou em ir comigo até a sala e falar com o pessoal da produtora responsável pela cerimônia. 

Na hora de assinar o contrato falei para a moça da produtora:

- O local da cerimônia será em minha universidade e eu sei que a acessibilidade pro palco, e o funcionamento dos elevadores, são de responsabilidade da própria universidade... Mas teria como vocês certificarem pra mim o acesso e funcionamento de tudo isso?"

Então, ela respondeu:

"Se a tua universidade te aceitou como aluna, a obrigação é da tua universidade..."

Eu não perguntei de quem era a obrigação, eu apenas perguntei se eles se disponibilizariam a ver a acessibilidade pra mim, foi totalmente desnecessário o que ela falou e escutar aquilo me deixou totalmente sem reação. Minha professora estava comigo nessa hora, e ela acabou respondendo "não é obrigação é o direito dela, pra isso existem leis...".

Resumindo, a moça da produtora disse que iria verificar a acessibilidade sim e que eu não precisava me preocupar... Ok, não vou me preocupar, mas respirei fundo e tentei ser positiva esquecendo aquelas M... que ela disse e confiar que tudo dará certo.

Saí da sala, conversei com algumas colegas e alegrias delas por estarem assinando o contrato acabou me contagiando também. Depois vim para casa e agora encerro meu dia escrevendo aqui... 

Boa noite!

Myriam Rawick

Anne Frank
Malala Yousafzai


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