Conheça Fernando Joaquim dos Santos

A primeira coisa que me lembro é de um garotinho magrelo, correndo de chinelo e bermuda branca.

Depois tudo foi normal brincava, brigava com meu irmão, eu sou dois anos mais velho, engraçado que eu sempre apanhava.
Até então éramos só os dois depois ganhamos duas irmãs, morávamos no interior vida dura, nosso pai bebia muito não ligava muito para a família,até hoje não consigo entender como minha mãe,conseguiu nos criar.
Quando completei o ensino médio, meus pais se separaram, eu tinha 14 para 15 anos, por sorte consegui um emprego, passei a ajudar a cuidar da casa.
Passando dois anos meu irmão começou trabalhar também, e tudo foi dando certo, nosso pai foi se acabando no álcool, mas nunca perdemos contato, e muito menos esperança de um dia ele se curar.
Morávamos em uma casinha de madeira que só tinha dois cômodos, era difícil o dia que essa pequena casa, não esta lotada de amigos, era muito bom.
Logo depois meu avô, presenteou minha mãe com uma casa de tijolos, com quatro cômodos e um banheiro, e um terreno de mil metros.
Daí então tudo sempre caminhou para melhor, mudei várias vezes de trabalho fiz feira, roça, até que parti para o ramo de construção civil. Foi a área que me identifiquei, passei de ajudante de pedreiro, para aprendiz de carpinteiro e até carpinteiro.
Nossa, falei de tudo e nada de diversões, tive algumas paqueras, namoricos de escola.
No meio dessas paqueras conheci uma menina diferente das outras, começamos namorar, construímos nossa casa e depois de três anos de namoro casamos.
Nessa época, meu trabalho como carpinteiro ia muito bem, não demorou comprei meu primeiro carro depois troquei por outro melhor e assim foi.
Muitas festas, bebidas, alegrias.
Certo dia recebemos telefonema da cidade onde meu pai morava, era minha tia, irmã do meu pai ,ele estava internado muito mal.
Na verdade nós já esperávamos essa notícia, ele não queria que os filhos o vissem, mas minha irmã mais nova foi visitá-lo.
A vergonha dele foi tão grande, que depois dessa visita nunca mais bebeu e nem fumou. Hoje temos orgulho de falar: Esse é nosso pai! A mesma bebida que um dia nos separou, conseguiu nos unir novamente, mas agora de uma forma positiva.
Voltando pra mim; da mesma maneira que meu pai gostava de beber, eu também gostava, e o pior bebia e saia dirigindo. Até perdi a conta de quantas vezes fiz essa combinação.
Dia 23 de maio de 2004 casamento do meu primo, me convidou para ser padrinho, tudo pronto para festa e como sempre combinamos a despedida de solteiro. Voltei do trabalho mais cedo nesse dia, levei o carro para lavar, enquanto lavava eu tomava cerveja, tomei o dia todo, a noite já estava bêbado, quando voltei para casa junto com a esposa ela tirou a chave do carro para eu não sair,e escondeu. Discutimos, eu fui procurar a chave; encontrei e saí com o carro. Peguei um amigo e partimos, bebi mais e mais e mais, até que tudo ficou escuro, escutei meu amigo que estava comigo no carro chorando e minha esposa o mandava ficar quieto.
Eu perguntei ainda muito confuso: O que está acontecendo? Você bateu o carro, responderam-me.
Muito bêbado que estava, nem dei conta, escutava lá no fundo: O braço está fraturado, temos que transferir, de repente tudo fica quieto, escuro, acho que eu dormia e acordava. Um momento eu pedi para minha esposa esticar minha perna, ela disse que estava esticada. Estranho, tinha a sensação que estava dobrada, mas tudo bem deve ser coisa da bebida ainda, numa dessas coisas de ficar escuro e quieto, quando acordei já estava em outro hospital, e sempre pedindo para alguém esticar minha perna.
Vários exames foram feito até que veio o resultado, uma fratura muito grave na região da coluna cervical, eu nem sabia o que era, pensei que faria uma cirurgia, ficaria de repouso alguns dias e tudo voltaria normal. Cirurgia marcada para quarta-feira comecei a sentir dificuldades para respirar, vinha uma médica e me passava inalação, terminava a inalação e a dificuldade voltava, começou as febres, ai que comecei a perceber que era grave a minha situação, os médicos passavam no corredor onde eu me encontrava numa maca, e ficavam discutindo baixinho.
Chegou o dia da cirurgia, me passaram da maca para uma cama, mas ninguém fez cirurgia. E as febres e a dificuldade de respirar só aumentavam. Um amigo foi me visitar e disse que teria que me tirar de lá, senão eu iria morrer. Foi uma correria, fui transferido para o HC de SP.
Ali começou a luta pela vida, minha esposa e minha irmã ficaram todo o tempo ao meu lado, pediram licença do trabalho, e lá ficaram 30 dias na UTI e 30 internos.
Uma coisa os médicos da outra cidade acertaram eu tive uma lesão muito grave na coluna cervical, foi fratura na c6 e c7, assim os médicos do HC disseram: Sua vida vai mudar completamente, você terá que se acostumar em uma cadeira de rodas, alguém terá que te dar banho e comida, pois voltará a ser uma criança, até frauda vai usar. Essas palavras foi para mim o fim, pensei até que seria exagero dos médicos... rsrsrs, mas não era, voltando para casa fui descobrir que era tudo verdade, eu não conseguia nem me virar na cama sozinho. Lembro bem, que era final de junho, época de frio, minha irmã saia da escola mais cedo para me dar banho, porque ainda tinha sol. Esse banho era na cama, eu não conseguia sentar- me, dava muita tontura, desmaio... aff, era estranho.
Passei por períodos muito ruins; voltei para fazer cirurgias de escaras (feridas) fiquei 150 dias de bruços por essas malditas escaras, depois quando tudo parecia estar melhorando fui para AACD fazer minha reabilitação, comecei a ter dificuldade para engolir. Com um raio x descobriram que um parafuso usado para fixar minha cervical estava soltando e quase perfurando meu esôfago.Volto as pressas para o HC, mas uma cirurgia feita.
Numa dessas idas e vindas do HC sempre de maca. Um dia vi um garoto em uma cadeira de rodas, perguntei pra mim mesmo: Será que um dia vou conseguir andar de cadeira sozinho?
Passou tudo voltei para casa, um amigo do meu bairro me deu uma cadeira, mas eu estava muito fraco, não conseguia ficar sentado desmaiava sempre. Para vocês terem uma ideia, tenho 1,87m e nessa época meu peso eram 45 kg.
Depois de algum tempo fui fazer reabilitação na AACD, ganhei uma cadeira apropriada para um tetraplégico que é minha situação, eu tenho os movimentos dos braços e punho, menos dos dedos. Essa cadeira tinha alguns pinos nos aros que devagarzinho fui conseguindo me mover, igual o garoto que vi no HC... rsrsr.
Os profissionais da AACD foram me ensinando tudo que um tetra pode fazer, aprendi tocar a cadeira, usar computador, tirar a barba, tomar banho, me alimentar, e uma coisa muito importante, a viver com deficiência.
No término do tratamento você tem uma chance de conhecer esporte na própria entidade, eu tive a sorte de entrar na piscina, e os professores me disseram que eu poderia nadar em uma competição. Eu via os atletas chegando treinar, entrando na piscina, nadando, aquilo era sonho, que por DEUS, consegui alcançar fui convidado a ser um dos membros da equipe da AACD.
No primeiro ano de treino fui para Maringá em abril de 2010, CIRCUITO LOTERIAS DA CAIXA, uma competição muito importante, quando vi aquela piscina gigante, pensei comigo: Tô ferrado... rsrs, a piscina da AACD tem 12 metros, mas já que estou aqui, vou tentar não deve ser pior do que as cirurgias que encarei.
Estava muito frio quando cai na piscina para minha prova, o professor falou: Você só tem que terminar a prova, viemos para ver tua classificação funcional, vai tranqüilo, mas complete a prova.
Quando deu a largada eu pedi para DEUS me ajuda terminar, e comecei a nadar, nadar, nadar e como nado de costa não se vê nada e nem escuta, e aquilo nunca que chegava do outro lado, até que bati no final, fiquei mais alguns segundos boiando ate que o professor e minha irmã me tiraram da água.
Doido pra saber o que tinha acontecido, mas estava tão cansado que a voz não saía; minha irmã com os olhinhos cheio de lágrimas, o professor me abraçou com muita força e falou: Você ganhou dos caras, eles estão a 10, 12 e até 15 anos nadando e você ganhou deles.
Pensei que era brincadeira, mas não era, realmente eu tinha chegado em terceiro lugar, depois nadei mais duas provas, ganhei mais uma em terceiro, depois continuo treinando.
Já consegui meu primeiro ouro que foi em outubro de 2010 no Pacaembu em SP, continuo treinando e esse ano de 2011 se DEUS quiser será ainda melhor. Meu nome é Fernando tenho 34 anos, continuo casado, a tetraplegia mudou minha vida. Mas foi para melhor!

Segue abaixo minhas conquistas ate hoje. 15 de DEZEMBRO 2012
Abraço a todos!

PRIMEIRA COMPETIÇAO

MARINGA (PR) ABRIL DE 2010

DUAS MEDALHAS DE BRONZE

50m LIVRE

50m REVEZAMENTO