Lutador representará o Brasil no primeiro evento do mundo de MMA para pessoas com deficiência

  
   Rafael Rodrigues trabalhava com o pai em uma serralheria quando uma forte chuva cedeu uma das paredes do local e caiu sobre ele. Na época, com 18 anos, o garoto que surfava e andava de skate teve de encarar pela primeira vez a cadeira de rodas. O processo de aceitação foi difícil e o esporte funcionou como uma ferramenta de superação para a vida. Competitivo, Rafael praticou basquete durante nove anos, depois encarou a bike adaptada e participou de uma equipe de kart. Foi premiado por onde passou. Hoje, aos 33 anos, já casado e pai de gêmeos, continua lutando. Só que agora no octógono.
   Rafael foi contratado para participar do primeiro evento do mundo de MMMA. Sim, são três “emes” mesmo: ‘modify mixed martial arts’. Sob regras das artes marciais mistas, o novo esporte pretende atrair cadeirantes e amputados. A iniciativa nasceu da parceria entre o grupo Wheeled Warriors, que apoia pessoas com deficiência em sete países, inclusive no Brasil, e o Ultimate Cage Fighting Championships (UCFC).
   Campeão paulista de jiu-jitsu na categoria paraolimpica e terceiro lugar no campeonato bragantino de jiu-jitsu contra pessoas sem deficiência, o atleta brasileiro fará cinco lutas no evento principal da noite, que acontecerá no dia 26 de outubro, em Yorkshire, na Inglaterra. Ele lutará contra o americano Steven “The Dragon”Pento” e brigará pelo cinturão mundial da modalidade, onde competem atletas de até 70 quilos. Conversamos com Rafael e sua equipe de preparação para saber o que podemos esperar desse grande duelo. Confira.

Assista também ao vídeo:

Depois de tantos esportes, como a luta surgiu na sua vida?
Rafael Rodrigues: Através de um preparador físico que eu tive que é faixa preta de judô e marrom de jiu- jitsu, Lucas Chaves. Ele ficava me convidando para lutar jiu-jitsu dizendo que eu conseguiria sem problemas, mesmo não tendo mobilidade nas pernas.

Como está sendo sua preparação para o evento da Inglaterra em outubro?
Rafael: Estou treinando duro, seis dias por semana. Treino completo de musculação, aeróbico, físico, jiu jitsu, boxe, muay thay, grond Pound... tudo isto combinado com uma alimentação balanceada, que é muito importante.

 Quem são seus ídolos no UFC?
Rafael: Tenho admiração e uso como referência Demian Maia, Antony Pettys e José Aldo Jr.

O que mudou na sua vida depois de aderir ao MMMA?
Rafael: Mudou a disciplina em relação aos treinos, alimentação e a exposição. A luta nem chegou à grande mídia e tem um monte de gente falando dela. Na academia, quando estou treinado, sempre tem gente gritando lá do fundo "vai guerreiro, não desiste”! Sinto uma corrente de energia positiva ao meu redor.

Da esquerda para a direita: Felipe Catarino, Rafael Rodrigues e Rodrigo Oliveira


Qual sua expectativa para a luta contra o americano?
Rafael: Bom, o que sei dele é que é um body builder pro [adepto do fisiculturismo]. Então, ele é muito forte ele tem um bom preparo no boxe, mas isso não me intimida. Só me da mais força. Vou impor meu ritmo e dar muita pressão do começo ao fim. Ele só vai pensar em defender, pois vou atacar do começo ao fim. Estou me preparando para lutar quatro rounds com gás total.

Para você, o que um lutador de MMMA tem que ter?
Rafael: Primeiro de tudo, tem que ter coragem. Entrar na jaula não é para qualquer um. Depois, tem de se dedicar às artes marciais mistas e ter coração para lutar e dar show, porque é isto que o publico gosta de ver.

 O que podemos esperar desse embate? Qual o seu ponto forte na luta?
Rafael: Posso garantir muito empenho e dedicação para representar meu País. Sou brasileiro e guerreiro, como todo nosso povo, e não desisto nunca! Meu ponto forte é u jiu-jitsu.

Alguém já lhe disse que não podia fazer isso?
Rafael: Sim, mas não vou polemizar. É uma pessoa do meio da luta , só vou dizer o que ele disse: "...se você lutar no meu campeonato vai chocar o publico..."

Felipe Catarino, preparador físico

As regras para o MMA para pessoas com deficiência são as mesmas? E as categorias, como são divididas?
Felipe Catarino: São basicamente as mesmas regras: os atletas começam sentados, mas podem realizar quedas e trabalham um jogo de chão. As categorias são divididas, primeiramente, por peso, depois os organizadores tentam deixar os atletas mais parelhos como, por exemplo, cadeirante contra cadeirante, amputado contra amputado e por aí vai.

Você acredita que o MMA pode crescer tanto quanto o MMA?
Felipe: O esporte foi criado e está sendo difundido agora, mas esperamos que nos próximos anos exista mais material humano para podermos trabalhar na modalidade.

Quem pode participar do MMMA? Como preparador físico, a quem você mais indica?
Felipe: Todo e qualquer deficiente, mas o mais apropriado e a quem eu indicaria seria para as pessoas que não têm probabilidades de piorarem suas lesões.

Como é trabalhada a movimentação de atletas cadeirantes no octógono?
Felipe: Na categoria do Rafael, os atletas ficam nas cadeiras, cada um cuidando da sua movimentação, não há técnicos dentro do octógono para isso, apenas para retirar as cadeiras, no caso da luta ir para o chão.

Que adaptações são feitas para realização da prática?
Felipe: Até agora não vimos nada de diferente das regras do MMA, só foram adaptadas às condições dos atletas.

A luta pode ser trabalhada como um exercício de reabilitação?
Felipe: A luta pode sim ser trabalhada como um exercício de reabilitação, tanto mental quanto física, porém alguns cuidados devem ser levados em conta para não piorar a lesão do atleta, independente da sua deficiência.

O que falta para que o esporte cresça no mundo?
Felipe: Provavelmente, as maiores dificuldades que iremos encontrar nos próximos anos serão profissionais capacitados, tanto educadores físicos quanto professores de artes marciais, e também a falta de material humano para fazer o esporte crescer.

Rodrigo Oliveira, nutricionista

Qual a dieta que o Rafael faz para os treinos?
Rodrigo: A dieta varia de acordo com o período de treinamento. Desta forma, temos reuniões periódicas entre os membros da comissão técnica para estabelecer o planejamento de treinamento (preparador físico) e datas das competições (técnico). O tipo de treinamento é importante para adequarmos às necessidades nutricionais específicas de um treino de força, melhora do condicionamento físico, hipertrofia, fases intercaladas de descanso, entre outros. E também as datas de competições para adequação de peso dentro da categoria na modalidade desejada.

Como o Rafael está sendo preparado para a pesagem no dia do evento?
Rodrigo: O regulamento da competição diz que a pesagem será no mesmo dia da luta, desta forma não é interessante utilizarmos de artifícios, como a desidratação, para batermos o peso, devido ao pouco tempo de recuperação. Sendo assim, o foco do trabalho é deixar o atleta com 70kg, antes e durante a luta.

Fonte: www.maragabrilli.com.br
Tecnologia do Blogger.