Entrevistas
A força e coragem de mães de UTI
Por dias, meses e até anos, as mães com filhos hospitalizados fazem das unidades hospitalares a sua segunda casa. Talvez nem seja correto afirmar isso, já que muitas abrem mão [mesmo] de sua vida em prol do bem-estar de seu filho, fazendo desse local o seu lar. E hoje, quando se celebra o Dia das Mães, O Diário mostra um pouco do que é a rotina de duas mães que passam dias e noites ao lado dos filhos internados, preenchendo o tempo e o espaço com amor e dedicação. Os corredores de paredes brancas se tornam familiares e os equipamentos que garantem a sobrevivência já não assustam mais. Médicos e enfermeiros, de tão próximos, se tornam bons amigos.
Na manhã de quinta-feira, a reportagem esteve no Hospital Dr. Arnaldo Pezzuti Cavalcanti, em Jundiapeba, que possui uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) pediátrica, denominada UTI Lar. Totalmente diferenciada das habituais, é a única do Brasil, nesse modelo, dentro de um hospital estadual. Lá estão internadas 28 crianças, preenchendo todos os leitos disponíveis. A promessa do Governo do Estado, contudo, é ampliar esse quadro para 60 leitos, dentro do programa de reformas pelas quais passa o hospital, o que beneficiaria mais pessoa.
Longe de ter um ambiente frio e impessoal, essa unidade abriga muitas histórias de crianças que precisam permanecer por longos períodos e moram no local, sob o cuidado dia e noite de uma grandiosa equipe de médicos. Uma dessas histórias é a da dona de casa Ana Cláudia Dantas, de 32 anos, mãe de Maria Eduarda Dantas, de 8 anos, que tem Síndrome de Verne Hoffman, doença neurológica crônica, progressiva, que chega a paralisar todos os músculos, exceto o olho. Aliás, é por meio do olhar que mãe e filha se comunicam.
Filha única, fruto de um relacionamento de seis meses [Ana Cláudia preferiu não dizer o nome do pai da criança e disse que ele não a visita], Maria Eduarda não foi um bebê planejado, mas foi aceito, conforme disse Ana Cláudia, que é de Barueri, na Grande São Paulo. “A minha gravidez transcorreu de forma normal e tranquila e eu não sabia que ela tinha essa síndrome até o primeiro ano de vida dela, quando teve de ser internada após uma crise. Ela ficou cianótica (roxinha). Somente quando ela foi transferida para uma UTI que veio o diagnóstico da doença. A partir de então, tudo mudou na minha vida, com uma rotina voltada somente para os cuidados com a saúde dela”, contou Ana Cláudia, ressaltando que Maria Eduarda está internada no Dr. Arnaldo há sete anos. “Pouquinho tempo, e eu tiro de letra”, disse a mãe, dona de um astral bem para cima. Em momento algum ela esboçou tristeza, muito pelo contrário, Ana Cláudia tem uma força que serve de inspiração para muitas pessoas que se queixam por tão pouco. Durante uma hora [tempo da entrevista], a dona de casa só sorriu e brincou. “Eu tenho de ser forte para passar segurança à minha filha, que precisa que eu esteja bem para estar do lado dela. Há sete anos que passo o Dia das Mães dentro dessa unidade, e eu adoro, sempre temos uma surpresa”, contou Ana Cláudia, que se classifica como “Mãe de UTI”, assim como todas as outras mães dessa unidade do Dr. Arnaldo.
Segundo a dona de casa, Maria Eduarda é uma menina totalmente ativa e entende tudo, embora ela não fale devido a um problema nas cordas vocais. A comunicação entre elas se dá somente por meio da expressão facial. “Ela é sorridente, é difícil vê-la triste e chorando. É supervaidosa e adora fazer a unha e maquiagem. E cabe a mim não deixar a peteca cair”.
Ana Cláudia não mora no hospital, mas quando precisa passa mais de um dia na unidade, que oferece, inclusive, alojamento e até refeições para as mães. “Eu venho todo dia, e chego aqui entre 10 horas e meio-dia e vou embora depois que ela dorme, às vezes, só à 1h30 da madrugada. O meu namorado, que é um pai para ela, afinal, pai é quem cria, que vem me buscar”, destacou ela, que mora na Vila Suíssa.
Ana Cláudia revelou que, se engravidar de novo, corre o risco de o seu outro filho nascer com a mesma doença.
Atividades
A diretora-técnica da UTI pediátrica do hospital, Marla Vargas Rodrigues Vidal, mãe de dois filhos (de 5 anos e 6 anos), é conhecida como a “mãe postiça” dos seus 28 pacientes, com idades de 1 a 12 anos, e das mais variadas patologias neurológicas. Há oito anos trabalhando nessa unidade, ela contou que já perdeu muitas crianças, o que a deixa bem triste, e que se apegar aos pacientes é algo normal.
De acordo com ela, as crianças têm aulas de segunda a quinta-feira com professores da rede municipal de ensino, que obedecem a um cronograma feito pela equipe de enfermagem e médicos do hospital. “Elas fazem atividades escolares, passeios ao ar livre [os que têm mais condições físicas de sair] pelo hospital para tomar sol, assistem a filmes em DVD portáteis”, disse Marla.
A assistente técnica Liz Godoy de Souza lembrou, também, que todos os sábados, por volta das 14 horas, as crianças recebem a visita dos “Doutores da Alegria”, que permanecem por duas horas no Dr. Arnaldo para amenizar a dor dos pacientes. “Temos dois grupos que vêm, o Heróis do Sorriso e o Julio Cidadão”. (Maria Salas)
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