Conheça Laureane...



Olá! Eu sou Laureane, 23 anos, cadeirante. Tive duas grandes sortes na vida: ter uma mãe professora e conhecer o feminismo na adolescência. Minha mãe começou a me alfabetizar aos dois anos de idade, sempre me incentivou a ler e exigiu ótimas notas. Isso ampliou muito minhas possibilidades. Embora eu só tenha conhecido formalmente o feminismo na adolescência, a partir de uma aula de redação, minha mãe é o maior modelo de feminista que conheço. 
Quando fui convidada pra escrever este texto, pensei logo em discutir a intersecção entre machismo e capacitismo. 
Só para seguirmos juntes: machismo é a idéia de que homens são superiores às mulheres e capacitismo é a idéia de que pessoas sem deficiência são superiores às pessoas com deficiência, em qualquer aspecto. Dito isso, vamos seguir.

 Feministas vêm apontando algumas práticas machistas que, muitas vezes, passam despercebidas. Uma dessas práticas ocorre quando um homem invalida os sentimentos de uma mulher dizendo que ela está exagerando ao exigir um direito, dizendo que está estressada por falta de sexo, enfim, exclui todos os fatores contextuais opressivos. Tenho percebido que algo parecido acontece com as pessoas com deficiência. É comum que quando uma pessoa com deficiência não está em um bom dia as pessoas sem deficiência atribuam o mau humor das primeiras à deficiência afirmando "ela é revoltada com a surdez [ou cegueira, ou paralisia, o que seja]", desconsiderando o ambiente opressivo em que vivemos: elevadores que não funcionam, ônibus e táxi não adaptados, locais públicos sem rampa, barreiras de comunicação entre outros. 

Uma outra prática machista que feministas vem apontando refere - se ao fato de homens tratarem mulheres como incapazes de entender o óbvio, explicando - lhes coisas simples, sempre colocando em cheque sua capacidade de compreensão. Percebo que isso também é comum entre pessoas sem deficiência em relação a pessoas com deficiência. Não raro as pessoas sem deficiência perguntam coisas sobre mim a quem está me acompanhando, como se duvidasse da minha capacidade de compreensão. Ou então falam com voz infantilizada. 

Uma reivindicação feminista que demorei ver sentido foi em relação à objetificação do corpo da mulher, demorei compreender qual o problema disso porque só fui desejada por um homem por volta dos meus 20 anos, no começo me agradava, afinal eu nunca havia passado por essa experiência antes, mas depois de um tempo cansa e irrita. É cansativo que os caras não se interessem pelo que você estuda ou trabalha, que não desenvolvam um papo, mas que peçam foto o tempo todo. 

Isso foi ficando mais evidente a medida que fui conhecendo o universo devotee (sei que alguém já escreveu sobre isso no blog, então corre lá pra conhecer melhor). Muita gente concentra suas energias pra discutir se o devoteismo é feio ou bonito, adequado ou inadequado, acredito que o debate útil seja: como combater o machismo do meio devotee? PS: o relacionamento com devotee não é a única possibilidade para as pessoas com deficiência. O vies heteronormativo não significa que não existam pessoas com deficiência LGBTIQ


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