Conheça Ana Carolina...

  

    Meu nome é Ana Carolina, tenho 24 anos, sou psicóloga e cadeirante há aproximadamente 2,5 anos.
   Com 1,5 anos minha mãe percebeu que eu tinha muita dificuldade para levantar do chão e numa festinha viu que eu não conseguia pular corda como as outras crianças. Ela me levou ao medico e foi diagnosticada distrofia muscular do tipo cinturas. No início era quase imperceptível minha deficiência, porém a distrofia é progressiva e eu cresci sabendo que um dia passaria a andar de cadeira.
   Acredito que tenha sido muito difícil para minha família lidar com essa realidade, pois a distrofia caracteriza-se pela perda de força muscular já que as células vão se degenerando com o tempo podendo até comprometer órgãos internos, o que graças a Deus não aconteceu comigo. 
   A médica chegou a dizer que meu caso não teria jeito e que minha mãe não devia ter muitas esperanças. Imagino a dor que ela sentiu ao ouvir isso... Mas o amor dela e de toda minha família por mim era grande demais pra nem sequer tentar e por causa de sua fé em mim consegui andar até meus 22 anos quando cai na faculdade e quebrei meu pé em 4 partes e por isso tive que ficar dois meses andando de cadeira e nesse momento eu soube que muito provavelmente eu permaneceria nela. 
   Deus é tão maravilhoso que nessa mesma época (durante um estágio) me deu a oportunidade de conhecer pessoas com deficiências até muito piores que a minha e por isso não achei que eu tivesse o direito de reclamar de nada porque se eles conseguiam por que eu não poderia também?  
   O que não esperava, é que a mudança para cadeira pudesse me trazer o que nunca tive: liberdade! Porque mesmo andando eu nunca pude ser independente porque pode cair a qualquer momento, então sempre dependi da minha família e amigos pra tudo.
   Com a cadeira motorizada que ganhei através de processo, conquistei minha independência e pude sair pela primeira vez na rua sozinha! Aos 23 anos chorei porque tive pela primeira vez que olhar se o sinal estava fechado antes de atravessar. Foi um sensação indescritível que jamais esquecerei!
   Desde então minha vida mudou completamente! Sempre lidei muito bem com minha deficiência e por isso nunca deixei de fazer nada por conta dela antes e principalmente depois da cadeira! 
   Eu sempre vivi rodeada de uma família cheia de amor e amigos que sempre fizeram questão da minha presença mesmo que isso significasse subir centenas de degraus comigo nas costas e isso não há nada nessa vida que pague!
   Me formei em psicologia com 23 anos e isso também foi uma grande guerra que só venci porque tive meu pai, meu irmão e meus colegas de classe me apoiando porque me formei na ufrj e lá não tem NENHUMA acessibilidade! 
   Eles tiveram que passar 5 anos me subindo nas costas pra que eu assistisse minhas aulas e no último ano ficou ainda mais difícil por causa da cadeira, mas eu nasci pra vencer e não seriam escadas que me impediriam de conquistar meus sonhos!
   Ano passado me formei e essa não foi uma vitória só minha e por isso dediquei a meus familiares e amigos! 
   Tenho um irmão maravilhoso que é meu melhor amigo, além de ser minhas pernas também! Rsrsrs!
   Muitas pessoas não entendem como podem pessoas com deficiência serem plenamente felizes e são essas que ficam confusas ao me verem com um sorriso largo andando pelas ruas. São pessoas com uma compreensão muito limitada da vida e creio que eu assim como muitos outros existimos para ajuda-los a entender que a felicidade não depende de sermos fisicamente "perfeitos" ela é uma questão de escolha e a meu ver ser triste dá trabalho demais, sentir pena de si mesmo.... Iiih, dá preguiça só de pensar!
   Eu fiz minha escolha, eu escolhi a luz, escolhi me amar e viver uma vida plena, sem limites!
   Amo ir à praia, sair a noite, cantar e rir, morrer de rir! Aprendi a dar valor às coisas simples da vida e a ser grata por tudo que tenho!
   Hoje trabalho com RH e sou responsável pelo programa de inclusão da minha empresa e sou muito feliz porque sei que meu trabalho faz diferença e pode contribuir para mudar o olhar de muitas pessoas sobre a questão da deficiência.
   Mas isso é só o começo, vou chegar muito mais longe...
  Nunca permiti que ninguém sentisse pena de mim e acho que isso se deve ao fato de que eu nunca me senti menos capaz e o olhar que temos sobre nós mesmo é o mesmo que o mundo nos lançará!   
Nós somos responsáveis por como o mundo nos percebe.
   Estar na cadeira não nos faz menos bonitos, o que pode nos aprisionar é nossa mente! Até mesmo a sensualidade... Tenho orgulho de dizer que sou muito paquerada até mais do que muitas mulheres andantes! Hauhauahaua!
   Essa é minha vida e não mudaria nada nela porque se tenho tantas pessoas incríveis comigo é porque Deus me escolheu pra viver essa história e porque sabia que eu descobriria como ser feliz com todas as dificuldades...
 
Amo minha vida, minha família e minha cadeira que permite voar sem limites! :)


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