Entrevistas
Conheça Nilza...
Aos doze anos de idade, era uma adolescente feliz, como qualquer outra adolescente, então foi quanto tudo mudou, comecei a sentir muitas dores nas pernas, mas achamos que era normal, minha mãe me levou ao médico e o mesmo disse que era dor de crescimento.
Os anos se passaram e as dores aumentavam e quase não conseguia pisar com todo pé no chão. As minhas articulações e toda musculatura da perna doía muito. Foi então que aos 14 anos, fui diagnosticada com uma doença chamada Distrofia Muscular Progressiva.
Me lembro bem o que disse para o Médico. O que é isto doutor? Então o médico disse, que era uma doença degenerativa e que aos poucos eu iria parar de andar, e iria ficar tão fraca que todo meu corpo iria parar, até meu coração não resistir mais, ai eu morreria.
Lembro-me que os médicos disseram que eu não viveria até os 18 anos e que até lá teria que usar uma cadeira de rodas e que eu seria dependente em tudo. Foi um choque para mim, mas principalmente para minha mãe, que sofria calada, para não passar para mim o quanto estava desesperada. A cada ano que passava ficava mais fraca, e realmente já não conseguia andar distância muito grande.
Quando completei 18 anos, o terror era estampado no rosto da minha mãe, que dizia que eu poderia morrer a qualquer instante. Só que a nossa fé era maior que qualquer diagnóstico médico. Superei os 18 anos, porém cada ano que passava via que tinha mais dificuldade para me locomover. Mas sempre com a esperança que iria melhor e nunca teria que usar a cadeira de rodas, pois para mim era a pior das notícias. Pelo o fato de estar muito fraca e não aceitar a cadeira de rodas, tive que parar de estudar, após três anos, me recuperei um pouco e voltei aos estudos, completei o ensino médio, porém a notícias não eram boas. O médico disse que a doença estava progredindo e que futuramente era certo que não conseguiria mais andar.
Desse modo lembro-me como se fosse hoje, aos 23 anos de idade, em um consultório médico, trouxe a cadeira de rodas e disseram, se você quiser viver mais terá que aceitar a cadeira de rodas, ou então, ficará presa em uma cama dentro de um quarto e não viveria a vida lá fora. Sai daquele consultório desesperada e sem saber o que seria da minha vida, pois já tinha feito tantos planos para meu futuro e nenhum iria se concretizar, apenas queria ter uma vida como todas as pessoas.
Tive um período de depressão, e não aceitava a minha condição atual, achava que sair na rua de cadeira de rodas, era uma vergonha, as pessoas iam debochar de mim, e iriam ter dó de mim, não queria ser vista como uma coitadinha. Após uns três meses, de sofrimento de auto piedade, decidi, e fiz minha escolha, “QUERO VIVER COM DIGNIDADE”.
A partir desse momento, escolhi ser feliz. A minha auto compaixão não iria resolver meu problema, a decisão era minha, a escolha de enfrentar as dificuldades e conquistar meus objetivos, tinha que ser minha e somente minha, ninguém iria fazer isto por mim.
Em um belo dia, tive um sonho em que Deus me dizia que sempre cuidaria de mim, naquela manhã, acordei com muita esperança e felicidade, cheia de vida, pois ao contrário dos médicos, sou cheia de saúde, meu coração está forte como de um “touro”, pois então, naquele dia, pedi minha mãe que me ajudasse a sentar na cadeira de rodas, estava em pânico, mas decidida, pedi que fosse até a rua comigo. Então minha mãe, empurrando minha cadeira me levou a rua, tudo era novo, estava com tanto medo, os olhares das pessoas me assustavam, e percebi que ainda tinha muitas batalhas a serem superadas e vencidas, aquilo era somente o começo da minha nova história. Os medos, a cada dia foram ficando menores, saia na rua com mais segurança,
No ano seguinte, os membros da igreja a qual congrego me deram uma cadeira de rodas motorizadas, pois, meus braços também já afetados pela doença, não conseguiam manusear a cadeira manual. Ao ganhar a cadeira motorizada, minha vida mudou, fiquei mais independente, onde queria ir, eu ia sozinha. Com um pouco da minha segurança adquirida, decidi voltar a fazer uma das coisas que mais gosto, voltei a estudar, passei no vestibular e comecei a fazer faculdade de pedagogia, pois amo a profissão de educador.
Comecei a trabalhar em uma escola de educação infantil, como voluntária nesse mesmo período, agora estava convicta do que queria, trabalhar em uma escola, aliás, naquela escola. Todos achavam que pela minha deficiência eu nunca iria trabalhar, que iria aposentar por invalidez, mas, mais uma vez, não aceitei aquilo para mim, pois queria trabalhar, realizar meus sonhos com o meu trabalho e vi que era capaz.
Então foi quando decidi a fazer um concurso público na minha cidade, e para surpresa de todos e para a Glória do Meu Deus que disse que iria sempre cuidar de mim, eu passei no concurso em primeiro lugar, mas ainda tinha outra preocupação, o médico do trabalho, eu era apta ou não? Sim, o médico declarou que eu era totalmente apta para entrar no mercado de trabalho.
Como disse, fui trabalhar naquela escola, onde era voluntária, já trabalho no mesmo lugar a seis anos, e todos me admiram e me respeitam em meu local de trabalho. Conclui a faculdade, me especializei em supervisão escolar e gestão de projetos. Depois de tudo que enfrentei, pois vivi também momentos de discriminações e preconceitos, olhares que me inferiorizavam, porém hoje olho pra tudo isto e tenho certeza que venci, através de uma única escolha, a escolha de viver e não aceitar um futuro que escreveram para mim, pois quem escreve o meu futuro é autor da minha vida, Deus, Ele me ajudou até aqui e sei que nunca me abandonará.
Hoje, estou realizada profissionalmente, sou vice-presidente do Conselho Municipal da defesa da pessoa com deficiência (COMDEF) na minha cidade, luto por uma cidade mais acessível, para a pessoa com deficiência, não dependo de ninguém para me sustentar, consegui eu mesma bancar todos meus estudos, reformei e adaptei minha casa para mim e a doença estaguinou. Pretendo fazer mestrado e quem sabe até um doutorado.
Apesar de tudo que passei, sou muito feliz, vaidosa como mulher, gosto de sair e me divertir com minhas amigas. Quero comprar meu carro e tirar minha habilitação. Ainda tenho muitos sonhos, projetos e conquistas e sei que se eu tiver fé, força de vontade, conseguirei realizar todos. Aprendi que diferentes, somos todos, pois somos indivíduos, cada ser é único e especial.
A deficiência, todo ser humano tem, seja ela qual for, visível ou invisíveis, mas todos nós temos, pois é assim que deve ser, desse modo podemos um complementar e ajudar na fraqueza do seu próximo, é essa característica que nos tornam humanos.
O que não podemos é desistir, temos que cumprir nossa jornada, vencer cada etapa, e nos tornar seres melhores, evoluir com nossas dificuldades. Aprendi, que o fato de ser cadeirante, isto não me fará ser mais ou menos mulher ou ser humano, que diferenças todos temos, apenas temos que ganhar o respeito e viver com amor, transferindo amor para os outros. Aprendi que ser especial é viver nossa própria vida e jamais desistir dos nossos sonhos. Matozinhos, 06 de dezembro de 2014. Por, Nilza Aparecida Alves – Mulher, que luta, sonhadora, feliz, esperançosa e com muita fé, a qual acredita que nada nessa vida é por acaso, tudo tem um proposito maior.
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