Manos favor e mais amor...


Começa assim: você foi rejeitado (a) boa parte de sua vida, via a maioria dos seus amigos felizes em seus relacionamentos enquanto estava em casa escolhendo qual dos canais de televisão é o menos pior. De repente, um bater na porta e a mais indesejada visita surge. Solidão.
Você até tenta manda-la embora, disfarça uma felicidade aqui e ali, mas ela te conhece bem. Já experimentaram muitos momentos juntos quando tentava entender suas limitações, foi sua única companheira naqueles dias e estende a mão novamente.
O problema da solidão é a consequência da sua visita. Espaçosa chama outros amigos como Depressão, Desespero, Angústia, Ansiedade e, o pior de todos, Baixa Auto-Estima. De uma só vez, entram todos no seu peito tirando o ar. O que fazer, então?
Nessas horas qualquer medida é emergencial, portanto perigosa. De uma maneira, quase mágica, surge alguém disposto a viver algo contigo. Poderia já existir este alguém, mas sua auto-piedade não o permitia enxergar.
O tempo passa e experimenta o amor. Ou algo parecido com ele.
Algum problema com isso? Não, claro que não. Aliás, para viver um amor nem seria preciso todo esse processo de sofrimento. Basta levar os dias que uma hora ele acontece. Contudo, devemos observar como lidamos QUANDO ele aparece.
É muito comum as pessoas admirarem aqueles que auxiliam quem possui alguma deficiência. Afinal, quem teria paciência ou boa vontade?
Entendo, compreendo e nem discuto essa percepção quando envolve familiares, pois já conheci casos em que a família abandonou a pessoa a sua própria sorte. Além disso, tenho a oportunidade de viver em uma que, por mais que não seja perfeita, me ajudou (e ajuda) muito a ter o mínimo de dignidade.
Porém, não consigo entender ou aceitar essa percepção quando falamos de amor. Perdi a conta de quantas vezes ouvi, li e vi comentários enaltecendo o parceiro de um cadeirante. É como se este ganhasse uma luz, uma autêntica santidade papal simplesmente por dar uns beijos em outra pessoa com deficiência. O absurdo aumenta mais ainda quando imerso naquela solidão que citei, essa pessoa passa a aceitar qualquer gracinha feita pelo companheiro.
Gente, não precisamos desse tipo de relação.
Tudo bem valorizar quem está contigo, isso faz parte de qualquer relacionamento, porém não levem isso como um favor porque não é. Amor é troca. Se alguém resolveu viver um relacionamento contigo é por quem você é. Apenas isso. Aliás, deveria ser apenas isso.
Muito cuidado, pessoal, com esse tipo de “valorização”. Algumas pessoas começam achar que são essenciais na vida do outro, ao ponto de terem o direito de fazer qualquer coisa com seus sentimentos. Viramos marionetes de uma peça recheada de manipulações e sofrimento na mão de quem deveria nos oferecer apenas amor.

Aprenda a lidar com a solidão, tente diminuir essa carga negativa que ela traz com amigos ou, se for o caso, terapia. Mas NUNCA, JAMAIS entre em qualquer relacionamento pra sair dela. Esse é o primeiro passo pra se enfiar histórias que vão lhe causar apenas dor. MUITA dor. 

Faty Oliveira
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