Faty Oliveira
Manos favor e mais amor...
Começa assim: você foi rejeitado (a) boa
parte de sua vida, via a maioria dos seus amigos felizes em seus
relacionamentos enquanto estava em casa escolhendo qual dos canais de televisão
é o menos pior. De repente, um bater na porta e a mais indesejada visita surge.
Solidão.
Você até tenta manda-la embora, disfarça uma
felicidade aqui e ali, mas ela te conhece bem. Já experimentaram muitos
momentos juntos quando tentava entender suas limitações, foi sua única
companheira naqueles dias e estende a mão novamente.
O problema da solidão é a consequência da
sua visita. Espaçosa chama outros amigos como Depressão, Desespero, Angústia,
Ansiedade e, o pior de todos, Baixa Auto-Estima. De uma só vez, entram todos no
seu peito tirando o ar. O que fazer, então?
Nessas horas qualquer medida é emergencial,
portanto perigosa. De uma maneira, quase mágica, surge alguém disposto a viver
algo contigo. Poderia já existir este alguém, mas sua auto-piedade não o
permitia enxergar.
O tempo passa e experimenta o amor. Ou algo
parecido com ele.
Algum problema com isso? Não, claro que não.
Aliás, para viver um amor nem seria preciso todo esse processo de sofrimento.
Basta levar os dias que uma hora ele acontece. Contudo, devemos observar como
lidamos QUANDO ele aparece.
É muito comum as pessoas admirarem aqueles
que auxiliam quem possui alguma deficiência. Afinal, quem teria paciência ou boa vontade?
Entendo, compreendo e nem discuto essa
percepção quando envolve familiares, pois já conheci casos em que a família
abandonou a pessoa a sua própria sorte. Além disso, tenho a oportunidade de
viver em uma que, por mais que não seja perfeita, me ajudou (e ajuda) muito a
ter o mínimo de dignidade.
Porém, não consigo entender ou aceitar essa
percepção quando falamos de amor. Perdi a conta de quantas vezes ouvi, li e vi
comentários enaltecendo o parceiro de um cadeirante. É como se este ganhasse
uma luz, uma autêntica santidade papal simplesmente por dar uns beijos em outra
pessoa com deficiência. O absurdo aumenta mais ainda quando imerso naquela
solidão que citei, essa pessoa passa a aceitar qualquer gracinha feita pelo
companheiro.
Gente,
não precisamos desse tipo de relação.
Tudo bem valorizar quem está contigo, isso
faz parte de qualquer relacionamento, porém não levem isso como um favor porque
não é. Amor é troca. Se alguém resolveu
viver um relacionamento contigo é por quem você é. Apenas isso. Aliás, deveria
ser apenas isso.
Muito cuidado, pessoal, com esse tipo de
“valorização”. Algumas pessoas começam achar que são essenciais na vida do
outro, ao ponto de terem o direito de fazer qualquer coisa com seus
sentimentos. Viramos marionetes de uma
peça recheada de manipulações e sofrimento na mão de quem deveria nos oferecer
apenas amor.
Aprenda a lidar com a solidão, tente
diminuir essa carga negativa que ela traz com amigos ou, se for o caso,
terapia. Mas NUNCA, JAMAIS entre em qualquer relacionamento pra sair dela. Esse
é o primeiro passo pra se enfiar histórias que vão lhe causar apenas dor. MUITA
dor.
Faty Oliveira
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