Conheça Natasha...



Natasha Marques , Atriz, Maquiadora e produtora, Paulista, 23 anos

Me tornei cadeirante devido à um "acidente", que pra começo de conversa NÃO FOI ACIDENTE.
Já imaginou um caminhão de 5 toneladas passar por cima de alguém, e essa pessoa permanecer viva?
Então , essa é a minha história.

Como de costume, os motoqueiros andam pelo corredor aqui em Sp, na tentativa de ultrapassar os veículos e chegar mais rápido. Com essa pressa do piloto, caí por baixo da ultima roda do caminhão , que passou por cima de mim.
Estava sangrando intensamente e com a bacia em estilhaços, sem entender porque minha vida tinha que acabar tão cedo.Fiquei consciente o tempo todo até ser sedada.
Eu me lembro de tudo.

Chegando no hospital fiquei em coma induzido. Minhas coxas começaram a necrosar e maior que o risco de ser amputada da cintura pra baixo, era o risco de óbito mas graças a Deus não precisei amputar e estou aqui pra contar como eu consegui suportar esse terror na minha vida.
Acordei com um tubo na garganta uns 15 dias depois na UTI. Quando me olhei estava cheia de fios no corpo, com ferros no meu quadril, e com uma enorme e fétida ferida na perna.
Perdi 21 kilos, não conseguia comer, caía plaqueta, caía albumina, caía potássio e tudo estava sempre se complicando.
Eu fui me recuperando sempre pensando no AMANHÃ. Não sei como suportei !!! Não tenho uma receita pra isso. Porque o que me sustentou pra chegar até aqui foi algo muito maior do que eu. Chamo isso de Força interior, Deus.

E enfim depois de quase 5 meses sem ver a luz do dia, consegui ser encaminhada para a cirurgia plástica e me livrar dessa ferida aberta.Eu ainda estava acamada e me passava todos os dias pela cabeça quando eu acordava que deveria ter morrido assim os médicos não teriam tanto trabalho, nem meus pais precisariam viajar pra me visitar, pensamentos depressivos me consumiam, mas sempre o outro lado que me dizia. Não desista!

Mas depois fui vendo as coisas acontecendo ao meu redor. E minha vida foi tomando um outro sentido. Sem querer comecei a mexer com vidas. Mexia sem querer e sem saber. As pessoas estavam se espelhando em mim e repensando suas vidas.
Pra voltar a andar eu pensei q só precisaria de uma "forcinha "
Magina...estava totalmente atrofiada. O que era aquilo? Uma pessoa de 21 anos ou uma de 99? Entrei em depressão , não queria fazer fisioterapia, porque achei que jamais voltaria a andar... Chorei muito quando coloquei os pés no chão. Mas voltei a pensar naquele "amanhã" sabe? Que o dia seguinte seria melhor, e que tudo isso iria passar.

Hoje tenho sequelas. Já se passaram 2 anos, mas sou grata. Eu não voltei a andar completamente pois não tenho força de quadril, tenho a mobilidade reduzida e canso muito rápido.

Mesmo assim hoje me sinto mais madura. Eu passei por um tremendo choque, um deserto. Mas hoje eu me sinto bem. Só de não estar com dor é muito bom.

Às vezes me bate saudade do teatro.. De tudo que fazia antes e das coisas da adolescência, da minha liberdade...
Eu poderia ficar pensando: " não deveria ter saído de casa naquele dia " "deveria ouvir minha mãe" "poderia ter trabalhado menos." mas isso me deixaria perturbada. E eu não estava nem um pouco afim de comprometer minha saúde mental né?!

Temos que pensar no agora e no daqui em diante. Não adianta reclamar... Mas o que pode ser melhorado? o que podemos fazer de diferente.?
Eu não deixei me abater e fui colorir a minha vida com maquiagem. Foi preciso eu seguir minha vida.

E tenho certeza que pra tudo existe uma saída. Exceto pra quem já morreu.
Disso tudo aprendi uma coisa muito valiosa. A me amar como eu realmente sou.


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